A Forma como Tratamos os Outros Seres
Reflete o Tratamento Que Damos à Alma
Joana Maria Ferreira de Pinho
Os estudos sobre
os benefícios da alimentação vegetariana para a saúde dos seres humanos e o
equilíbrio do planeta são cada vez mais numerosos. Ainda que lentamente, a
ciência começa a ir ao encontro da sabedoria universal neste aspecto.
Muitos
seguem o regime alimentar vegetariano como forma de fortalecer a vitalidade.
Alguns terapeutas das medicinas alternativas, como a naturopatia, defendem a
ideia de que o consumo de carne implica assimilar as emoções do animal. Para
eles a agressividade do ser humano aumenta com o consumo de produtos animais.
Ao comer um bife, o indivíduo ingere não só proteínas mas um conjunto de hormônios
e outras substâncias que escapam ao olhar. A adrenalina que o animal produz
enquanto sofre estresse e morte violenta é um exemplo. Quando ingerimos alimentos,
ingerimos emoções. Vendo como a maior parte dos alimentos é produzida hoje em
dia podemos constatar que as emoções que “ingerimos” nem sempre são as mais
saudáveis.
Ao
longo da história da humanidade o vegetarianismo tem sido defendido pelos
sábios. “Ísis Sem Véu” diz o seguinte:
“Zeller
afirma que Xenócrates proibia o consumo de carne animal, não porque ele visse
nos animais alguma semelhança com o homem, já que lhes atribuía uma pálida
consciência de Deus, mas ‘pela razão contrária, por temer que a irracionalidade
das almas animais assim pudesse obter uma certa influência sobre nós’. Mas acreditamos
que foi antes porque, como Pitágoras, ele teve os sábios hindus por mestres e
por modelos. Cícero mostra-nos Xenócrates desdenhando de tudo, salvo da virtude
superior; e descreve a pureza e a severa austeridade de seu caráter. ‘Nosso
problema é libertar-nos da sujeição da vida dos sentidos, e vencer os elementos
titânicos de nossa natureza terrena por meio da natureza divina’. Zeller fá-lo
dizer: ‘Mesmo nos desejos secretos de nosso coração, a pureza é o maior dever,
e apenas a filosofia e a iniciação nos mistérios nos permitem atingir tal
objetivo’.” [1]
Optar
pelo vegetarianismo é acima tudo uma questão de ética. À medida que o contato
com a alma imortal é fortalecido, surge o respeito pela vida. Massacrar animais
para satisfação do paladar ou como forma de canalizar a energia destrutiva
deixa de fazer qualquer sentido. Podemos ler no texto “A Ética da Alimentação
Vegetariana”:
“O
surgimento de novas teorias alimentares, que nos levam a abandonar o hábito de
matar animais para comer carne, é uma das grandes bênçãos que hoje se derramam
sobre o difícil caminho da humanidade. Pode ser um dos fatores fundamentais
para eliminar a violência de dentro e de fora do indivíduo humano.” [2]
Criar
animais para o consumo humano é uma contradição. Como se pode cuidar e tratar
os animais para depois os matar e devorar? Alguns podem alegar que os animais
são sacrificados para que o homem tenha o que comer e possa cumprir seu
propósito. Mas esse ritual é uma traição à própria vida, um comportamento que
demonstra a ignorância humana e não sua “superioridade” em relação aos
animais. Cuidar dos animais, dar-lhes
abrigo, em alguns casos afeto, alimentá-los e depois matá-los demonstra o lado
mais sombrio da humanidade, um lado sádico que os animais não têm. Ser “superior”
a eles é acima de tudo respeitá-los e cumprir o dever de os proteger e os
auxiliar no caminho evolutivo. Helena Blavatsky escreveu:
“…A
natureza física, a grande combinação
de correlações físicas de forças que avançam em direção à perfeição (…) modela
e remodela enquanto prossegue e, terminando a sua obra no homem, apresenta-o
apenas como um tabernáculo apropriado ao obscurecimento do espírito Divino. Mas
este não dá ao homem o direito de vida e de morte sobre os animais inferiores a
ele, na escala da natureza, ou o
direito de os torturar. Exatamente o contrário. Além de ser dotado de uma alma
- que qualquer animal, e mesmo qualquer planta, também possui mais ou menos -,
o homem tem uma alma imortal racional,
ou nous, que deveria torná-lo pelo menos
igual em magnanimidade ao elefante, que caminha cuidadosamente para não esmagar
os animais mais frágeis do que ele.” [3]
A
alimentação física reflete a nutrição que damos ao eu interior. A forma como
tratamos os outros seres espelha o tratamento que damos à alma. E Paracelso
ensinou:
“O
homem come e bebe dos elementos, para o sustento do seu sangue e da sua carne,
mas dos astros vêm o sustento do intelecto e os pensamentos de sua alma.” [4]
Reconhecendo
a dimensão divina da vida e dando à alma o alimento correto surgem o respeito e
a compreensão. Assim a paz e a benevolência passam a ser realidades concretas.
NOTAS:
[1] “Ísis Sem Véu”, de Helena P.
Blavatsky, Ed. Pensamento, SP, Vol. I, 341 pp., p. 79.
[3] Da obra “Ísis Sem Véu”, de
Helena P. Blavatsky, Ed. Pensamento, Vol. III, 301 pp., p. 244.
[4] Palavras citadas no texto “Paracelso e o Livro da
Natureza”, de Carlos Cardoso Aveline. Veja-o em nossos websites.
000
Uma versão inicial
de “A Dieta Que Respeita a Vida” faz
parte da edição de novembro de 2015 de “O
Teosofista”, pp. 3-4. O artigo foi
publicado como texto independente em nossos websites associados dia 20 de
fevereiro de 2019.
000
Veja o livro “O Naturismo em Sêneca”, de Paul
Carton. Leia os artigos “Por Que os Animais Sofrem?”, de
Helena P. Blavatsky, e “A Ética da Alimentação Vegetariana”,
de Carlos Cardoso Aveline.
000