A Mente Lúcida é uma Espada que Corta
Ilusões, Principalmente as Nossas Próprias
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline

*
Cada
momento de plena atenção é uma experiência revolucionária. A vigilância derrota
a rotina e revela a potencialidade infinita da vida.
*
A alegria de viver não necessita de motivos externos para ser forte e estável:
ela resulta do contato espontâneo com a alma espiritual e a lei do universo.
*
Há vários modos de estar onde queremos. Através das páginas de bons livros
podemos viajar aos lugares mais interessantes do espaço e do tempo, e ouvir as
almas sábias de todas as épocas.
*
Os corredores do Carma têm limites laterais cuja substância é feita de hábitos.
O estudante deve criar padrões corretos de ações repetitivas e atitudes em sua
vida, para que os corredores do carma o levem até a bênção e a sabedoria.
*
Não há favores pessoais nos planos superiores do caminho espiritual. O caminho
é regido pela Lei. Toda bênção recebida do alto deve ser, portanto, um resultado
natural do nosso mérito, ou não terá validade.
*
Vencer é relativamente fácil. Todo mundo faz isso de vez em quando,
merecidamente ou não. O importante é consolidar o progresso realizado. O
valioso é perceber a vitória a todo momento, em cada tarefa bem feita, em cada
gesto sincero.
*
A visão correta do detalhe permite compreender o todo. A percepção adequada do
todo torna possível ver o detalhe. O círculo está presente no ponto, assim como
o ponto está presente no círculo. E a cada novo olhar, percebemos um pouco
melhor a realidade.
*
O centro de paz no silêncio da consciência determina a qualidade e o ritmo de
pensamentos, emoções, ações e percepções profundas. Quanto maior o contato com
este centro, mais significativa será a nossa presença no mundo ao redor.
*
Em teosofia, não é impossível ser visitado por uma espécie de relâmpago
espiritual. Numa pausa meditativa no meio do esforço altruísta, uma felicidade
abissal pode vir até você sem palavras e transformar a sua vida em uma fração
de segundo. E esta é uma experiência diante da qual você não deve permitir que
surja qualquer apego.
*
A plenitude interior transcende o som. A luz da unidade e da amizade universal
brilha desde o coração humano sem necessidade de palavras. Miguel de Molinos
escreveu que as palavras podem então ser abandonadas, do mesmo modo que um
navio é deixado de lado quando chegamos ao porto de destino.
*
Administrar situações de modo responsável e criativo pode ser mais importante
que a natureza das situações em si. Em muitos casos, os fatos da nossa vida
fazem menos diferença que as nossas decisões sobre como atuar diante deles.
Construir o futuro é uma tarefa central. O momento presente não só contém o
passado mas constitui a matéria-prima com a qual podemos fazer algo melhor.
*
O exagero ameaça a durabilidade do esforço feito. A ação de intensidade
moderada permite que trabalhemos no presente sem esquecer do futuro. A calma
caracteriza as ações duráveis e eficazes.
*
Nenhum trabalho, por mais nobre que seja, deve suprimir o descanso necessário
para que ele se renove e se desdobre em uma perspectiva de longo prazo. A
quantidade certa de silêncio, e de humildade, ajuda a moderação a acontecer.
*
A mente lúcida é uma espada que corta ilusões, principalmente as nossas próprias.
O discernimento em relação às coisas da vida e do movimento esotérico deve ser
obtido gradualmente. Qualquer “instantaneidade” é maiávica.
*
Pouco a pouco o estudante passa a ver o que é verdadeiro e o que é falso, quem
fica do lado da busca da verdade e quem opta pela arte de fazer poses, insistindo
no faz-de-conta e sorrindo como os sepulcros caiados sorriem.
*
Ninguém pode esclarecer o peregrino sobre a verdade e a ilusão. Ele terá que
compreender por si mesmo a topografia da vida.
*
Uma atitude impessoalmente severa é necessária quando enfrentamos falsidades, mas
cabe ter mais compaixão do que raiva diante dos fingidores. Eles esqueceram que
a sinceridade é uma bênção; no entanto, podem superar este erro infeliz seguindo
o exemplo dado por quem deixa de lado o caminho do engano.
*
Há algo que não convém esquecer jamais: em todas as situações, o que plantamos é mais importante do que
aquilo que podemos colher.
*
Não sejamos ingênuos ou desinformados: não há motivo para cair no sonho do egoísmo
materialista. Aquele que salva um só animal da morte ou do perigo ajuda a
evolução do planeta. E quando alguém planta uma árvore ou cuida dela,
estabelece a tendência de um sentimento de amizade pela Vida que pode ressoar
pelo globo inteiro.
*
Por que motivo o caminho da sabedoria precisa ser íngreme, estreito e
desafiador? Afinal, se a sabedoria é boa e eterna, e se ela diz respeito ao
Nirvana e à bem-aventurança, o caminho não deveria ser agradável?
*
O caminho é incômodo porque, apesar das luminosas intenções conscientes, um
aspecto da nossa consciência quer avançar para o futuro, e outro aspecto da
nossa consciência se apega ao passado. Este conflito de interesses da nossa
parte gera desconforto. Queremos voar sem sair do chão. Pretendemos avançar
pelo caminho sem afastar-nos do ponto em que estamos, chegar ao futuro sem
abrir mão dos hábitos do passado, e alcançar a sabedoria sem deixar de lado a
ignorância. Nestes termos, uma certa dificuldade é inevitável.
*
De nada adianta adotar uma postura de vítima e lamentar-se diante das ondas
probatórias que educam o eu inferior com dureza. O sofrimento é produzido pelo
nosso próprio apego à cegueira espiritual. O eu superior não sofre. Ele é feito
de bênção e bem-aventurança. A alma espiritual é a origem e o destino do eu
inferior. A personalidade materializada do ser humano é uma projeção passageira
de Atma-Buddhi no mundo mental e no mundo externo. Devemos aprender a refletir
corretamente a Mônada que orienta nossa existência ao longo das diferentes encarnações.
000
O artigo acima foi publicado
como texto independente em 20 de fevereiro de 2019. Uma versão inicial e
anônima dele está incluída na edição de novembro de 2015 de “O
Teosofista”.
Embora o
título “Ideias ao Longo do Caminho”
corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts
Along the Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os
conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
000