24 de fevereiro de 2015

Sobre o Uso de Poderes Psíquicos

O Que Buddha, o Novo Testamento
e Helena Blavatsky Dizem a Respeito

Carlos Cardoso Aveline 




Bom senso é hoje uma virtude relativamente rara. A todo momento encontramos pessoas entusiasmadas e iludidas com poderes psíquicos, clarividência, canalização e todo tipo de manipulação desastrada de energias sutis para fins pessoais.

E também é possível encontrar pessoas que buscam ardentemente a vivência da ética, que estão interessadas em aprender a arte de viver corretamente, e buscam com inteligência plantar o bem, antes de colher o bem.

Diz a tradição que, muitos milhares de anos atrás, o desgraçado final da civilização de Atlântida esteve associado, precisamente, ao uso egoísta e irresponsável de poderes psíquicos. Estudar a história do movimento teosófico traz grandes lições práticas, e vale a pena citar um exemplo desse princípio geral. 

Tão logo H. P. Blavatsky morreu, Annie Besant voltou-se contra os ensinamentos originais e deixou de lado a linha de ação de H.P.B. A partir de então, não faltaram desastres éticos. Ao examinar os fatos históricos, o estudante vê que os absurdos e escândalos provocados na primeira metade do século vinte por Annie Besant e Charles Leadbeater estão diretamente associados ao uso e abuso da falsa clarividência.      

Por outro lado, no seu livro “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky ensina o caminho da renúncia e da simplicidade.  Ela conta que certo dia o rei Prasenagit - amigo e protetor de Buddha - sugeriu ao Mestre que  fizesse milagres, isto é, que usasse seus “poderes psíquicos” ou siddhis

Buddha respondeu:

“Grande Rei, eu não ensino a lei para meus alunos dizendo a eles: ‘vão, vocês, santos, e diante dos olhos dos brâmanes e chefes de família  realizem, através dos seus poderes sobrenaturais, milagres maiores do que qualquer homem é capaz de realizar’.  Eu digo a eles, quando lhes ensino a lei: ‘Vivam, vocês, santos, ocultando suas boas obras e mostrando os seus defeitos’.” [1]

É interessante lembrar o que o Novo Testamento ensina  em sua narrativa simbólica  sobre as tentações de Jesus no deserto.  

Em Mateus,  4: 3, o “tentador” aproxima-se de Jesus e sugere que ele faça algo que é proibido a todo verdadeiro Peregrino: usar poderes psíquicos com o objetivo de obter  bem-estar para si mesmo.

Diz o “tentador” a Jesus, o Iniciado:    

“Se és filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.”

Em sua resposta, Jesus ensina que, para um verdadeiro aprendiz, não há nada mais importante que a voz da Consciência presente em seu próprio interior:

“Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.”

A lição é clara: o uso de “poderes” para fins pessoais é fonte de grave ilusão e sofrimento.

A vida é aprendizagem. Tanto os movimentos esotéricos, coletivamente, como os aprendizes da sabedoria universal, individualmente, devem aprender com os erros do passado para não repeti-los.

No século 21, é possível libertar-nos das estruturas burocráticas e ritualistas de poder construídas com base em tais erros e abusos. Cabe a cada um seguir o caminho da motivação altruísta, com independência e com responsabilidade própria. Esse é o caminho da verdadeira felicidade interior, o caminho pelo qual se obtém “o tesouro que está nos céus”. O resto, diz a tradição, “nos será dado por acréscimo”. Mas não nos será dado no momento ou da forma que podemos esperar. Daí a importância de não pensar nos frutos pessoais das nossas boas ações.

A justiça descerá sobre nós como o orvalho da manhã, quando o bom carma estiver maduro. Ninguém pode apressar ou retardar o nascimento de um novo dia. 

O peregrino que possui discernimento trabalha desde as primeiras horas da madrugada, sabendo com certeza que o novo dia virá para iluminar e recompensar, no momento certo, as suas verdadeiras intenções e também os seus atos todos.     

NOTA:

[1] “Isis Unveiled”, H. P. Blavatsky, Theosophical University Press, Pasadena, California, 1988, edição em dois volumes, ver volume I, p. 600. Na edição brasileira de “Ísis Sem Véu” (Ed. Pensamento), a passagem está na p. 272 do volume II.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C. 


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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