Uma Reflexão Sobre
Autorresponsabilidade
O estudante de filosofia esotérica dispõe de alguns meios e métodos pelos
quais pode obter a sabedoria de modo gradual e seguro. Um dos Aforismos de Ioga
de Patañjali afirma:
“A cognição correta resulta de percepção, dedução e testemunho.”[1]
O exercício a seguir consta de sete perguntas e inclui a prática da
dedução, ou inferência. Ele pode e deve ser realizado regularmente. Em
diferentes momentos da vida do estudante, as respostas ou sentimentos em
relação a estas questões serão diversas. Se ele anotar e registrar a data das
suas reflexões, poderá perceber ao longo do tempo a evolução das suas reações
pessoais diante dos temas levantados.
As cinco perguntas iniciais são:
1) No meu estágio atual de aprendizagem de teosofia, de que modo eu
respondo à pergunta sobre se os Mestres de Sabedoria existem, de fato?
Posso e devo ser sincero comigo mesmo, porque o caminho da sabedoria
começa com a renúncia à autoilusão.
2) Se os Mestres de Sabedoria existem, eles observam a humanidade? O
que é que eu, como indivíduo independente, penso e sinto a respeito?
3) Caso os Mestres observem a humanidade, será que eles acompanham com
especial atenção o movimento teosófico moderno, que eles próprios fundaram cuidadosamente
no século 19, através de discípulos como Helena Blavatsky e outros?
4) Se os Mahatmas observam o movimento teosófico, será que eles têm mais
afinidade com aquele nível externo de atividade teosófica falsificada, que gira
em torno de coisas como poder pessoal, rituais espúrios, ambição e
vaidades? Ou será que eles preferem aquela parte do movimento teosófico que
estuda atentamente e tenta vivenciar o ensinamento original transmitido
por eles?
5) E quando os Mestres observam o movimento teosófico original, será que
eles observam com mais nitidez aquela parte do movimento que apenas memoriza e
repete as obras originais e autênticas, tentando vivenciá-las? Ou eles dão mais
atenção àqueles setores que, além de fazer isso, olham para a situação
atual da humanidade e para o futuro da civilização à luz do ensinamento
original, discutindo - de modo crítico e construtivo - o dever e o
futuro do movimento?
As perguntas acima merecem uma cuidadosa observação. É útil levar em
conta que H. P. Blavatsky escreveu o seguinte no capítulo 14 da
obra “A Chave da Teosofia”:
“Os
Mestres olham para o futuro, não para o presente, e cada erro de hoje significa
apenas mais sabedoria acumulada nos dias que virão.” [2]
Concluída esta etapa, cabe avaliar duas questões que dizem respeito ao
próprio estudante. Elas convidam a um autoexame tão honesto quanto possível,
porque toda aprendizagem implica um dever ético. O conhecimento que é mal
usado, ou que não é usado, não é real conhecimento.
As perguntas finais são:
6) Considerando que a responsabilidade do movimento teosófico e dos
Mestres de Sabedoria em relação ao futuro da humanidade é um fato comprovado,
será que eu tenho real consciência do que significa atuar, como indivíduo,
dentro do “campo de observação” dos Mestres de Sabedoria? Como eu me sinto,
pessoalmente, quando penso nessa possibilidade e nessa responsabilidade?
7) Cabe examinar, a seguir, se compreendo pelo menos algumas das
implicações práticas de uma regra mencionada na literatura esotérica. O axioma
afirma que “o candidato a discípulo não deve preocupar-se em ‘encontrar o
Mestre’; mas deve, isso sim, tomar as medidas práticas para que, quando
o Mestre observe sua aura, a encontre correta e preparada para trilhar o
caminho impessoal do dever para com todos os seres.”
O
axioma está bem documentado. A obra “Luz no Caminho”, de M. C., afirma:
“É
fácil dizer, ‘não serei ambicioso’. Não é tão fácil dizer, ‘quando o Mestre
examinar o meu coração, ele o encontrará completamente limpo’.” [3]
Apontando
na mesma direção, Helena Blavatsky aconselha no seu texto “Chelas e Chelas
Leigos”[4]:
“Antes
de desejar, faça por merecer”.
A
vida segue a lei da simetria, e a simetria inclui frequentemente o paradoxo. Na
experiência de encontro com fontes superiores de inspiração, o estudante vê com
toda nitidez, compreende, e abandona, o que há de pior e mais desagradável em
si, o seu “esquema de reprodução da dor”. Esta vivência pouco agradável é um
efeito colateral do fato de que ele está passando por uma experiência essencial
de encontro consigo mesmo.
No
primeiro parágrafo do livro “Luz no Caminho”, o estudante lê as seguintes
advertências:
“Antes
que os olhos possam ver, eles devem ser incapazes de lágrimas. Antes que o
ouvido possa ouvir, ele deve ter perdido sua sensibilidade. Antes que a voz
possa falar na presença dos Mestres, ela deve haver perdido o poder de ferir.
Antes que a alma possa erguer-se na presença dos Mestres, os seus pés devem ser
lavados com o sangue do coração.” [5]
Duramente
golpeado pela força surpreendente da sua própria ignorância, que só agora ele
compreende melhor, o estudante persevera na ação correta independentemente das
circunstâncias externas. Deste modo ele descobre e passa a viver em unidade
crescente com a mais profunda substância do seu próprio ser interior - que não
é “seu”, mas é universal.
E
a ignorância começa a dissolver-se lentamente no ar, destruída de um lado pelo
fogo da provação, e de outro pelo bom carma da ação adequada.
NOTAS:
[1] “Aforismos
de Ioga, de Patañjali”, William Q. Judge, edição online disponível em nossos
websites associados, Livro I, Aforismo 7.
[2] “The Key to Theosophy”,
Theosophy Co., Los Angeles, ver p. 299.
[3] “Luz no
Caminho”, de M. C., Tradução, Prólogo e Notas de Carlos Cardoso Aveline, The
Aquarian Theosophist, Portugal, 2014, 85 pp., ver p. 20.
[4] O
artigo “Chelas e Chelas Leigos” está disponível em nossos websites associados.
[5] “Luz no
Caminho”, de M. C., The Aquarian Theosophist, 2014, ver p. 19.
000
Uma versão inicial do texto acima foi publicada sem indicação de nome de
autor na edição de maio de 2012 de “O
Teosofista”. Em inglês, a versão inicial e anônima apareceu na edição de
junho de 2012 da publicação “The
Aquarian Theosophist”.
000
Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.

Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.