O Círculo é a Imagem de Uma
Unidade Que Inclui a Imensidão
Múcio Teixeira
Múcio Teixeira

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Nota
Editorial de 2015:
No início do poema “A Unidade do
Todo”,
Múcio Teixeira constata a ineficácia
da palavra “Deus” como meio de descrever
a Lei Universal. A ingênua personificação
do
mundo divino constitui um fato infeliz:
é
em nome dos falsos deuses monoteístas que
se
fazem as guerras e se dominam as mentes
de
populações inteiras. A teosofia original
rompe
ilusões porque tem como meta a busca da
verdade. Ela vê no universo uma
pluralidade de
inteligências divinas, unidas pela Lei
do Equilíbrio.
Escrevendo em 1909, Múcio Teixeira usa a
palavra
“Deus” de modo cauteloso. Faz isso seguramente para
evitar a perigosa intolerância das
mentes supersticiosas. O
poema a seguir expressa a sabedoria
divina de todos os tempos.
(Carlos Cardoso Aveline)
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“O número não é outra coisa senão
a
repetição da unidade. A unidade
encerra-se
em todos os números, sendo
a
medida comum de todos eles, e o
manancial
da sua origem. O número é a
harmonia,
e sem harmonia nada existe.
O sol
encerra o mistério do Ternário na
Unidade;
e se no cristianismo há o Pai, o
Filho
e o Espírito Santo, temos no Ocultismo
o Keter, o Chocmah, e o Binah.”
(Cornelio
Agrippa)
Tudo é
Um. Não concebe a nossa mente
Dar
a ideia de Deus, sem ter presente
Um
símbolo qualquer;
Sirva-nos,
pois, o Círculo de imagem,
Uma
vez que a impotência da linguagem
Não
exprime o que quer.
Já
que a Razão recua ante o impossível,
Tentemos
exprimir o inexprimível
Por
um ponto central,
Cujos
raios de luz por excelência
Formem
a Universal Circunferência,
Emanando
da Causa Inicial.
Seja
o Círculo a imagem da Unidade
Que
se amplia por toda a imensidade;
Mas...
o Círculo tem
O
mais além das dimensões traçadas,
E
as que partem de DEUS, ilimitadas,
Ultrapassam
o Além!...
Tudo
está concentrado, e se dilata
Nessa
medida, estritamente exata,
Que
preenche o interior;
E
como nada pode ficar fora
Do
Todo idealizado, vê-se agora
Que
na hipótese falta o exterior.
O
amor, o belo, a luz e a harmonia
Tudo
enfim que do AUM parte, irradia
Num
perene arrebol,
É
como o Sol, que raios mil dardeja
E
em cada um desses raios mil lampeja
O
seu fulgor de Sol.
(1909)
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O
poema acima é reproduzido do volume “Terra
Incógnita”, de Múcio Teixeira, Casa Duprat Editora, São Paulo, 1916, 407
pp., ver pp. 171-172. Um dos pioneiros
do pensamento teosófico em língua portuguesa, Múcio Teixeira nasceu em Porto
Alegre em 1857 e viveu até 1926.
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