Para Voltaire, a Amizade é Inseparável da
Sabedoria
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Às vezes a palavra “amizade” é
usada de modo tão vago que não sabemos o que ela significa de fato para esta ou
aquela pessoa.
O
filósofo iluminista francês François Marie Arouet, mais conhecido como
Voltaire, escreveu o seguinte:
“Amizade
é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis,
porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a
amizade. Virtuosas, porque os maus não buscam mais que cúmplices. Os sensuais
buscam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos
congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantêm relações. Os príncipes
têm cortesãos. Só os virtuosos possuem amigos.” [1]
Assim,
na realidade, amigo não é cúmplice e não é comparsa.
Quem
engana os outros deve procurar ser um pouco mais inteligente e fazer um autoexame
honesto para ver-se livre deste problema, porque está, seguramente, enganando sobretudo a si mesmo. Pretender ser
mais esperto que os outros é prova de uma deficiência mental profunda, mal
disfarçada pela astúcia de curto prazo.
A mentira, ainda que supostamente “bem-intencionada”, faz o mentiroso
perder a noção de realidade.
A base
inevitável da sinceridade é o autoconhecimento. Só se pode ser amigo dos outros
sendo, antes, amigo de si mesmo e do seu próprio eu superior. Em sua origem, a palavra “filosofia”
significa “amor à sabedoria”, e Voltaire acrescenta:
“O
filósofo é um amigo da sabedoria, ou seja, da verdade. Esse duplo caráter
esteve presente em todos os filósofos. Não houve nenhum na Antiguidade que não
desse exemplo de virtude aos homens e lições de verdades morais.” [2]
Não é
por acaso que o lema do movimento teosófico afirma: “não há religião mais
elevada que a verdade”.
A
amizade é um privilégio exclusivo dos que dizem a verdade tal como a percebem.
Para a prática da fraternidade universal - grande meta da evolução humana -
cada um deve reaprender a ser sincero com todos
os outros.
NOTAS:
[1]
“Dicionário
Filosófico”, Voltaire, Ed. Martin
Claret, p. 23.
[2] “Dicionário Filosófico”, p. 232.
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