O Poema que Inspirou o Lema da
Escola Interna de Helena Blavatsky
Carlos Cardoso Aveline
Ao concluir em 1890 as explicações preliminares da Instrução III da sua Escola Esotérica, Helena
P. Blavatsky mencionou “um grande poeta norte-americano”, que a pesquisa revela
ser Henry W. Longfellow.
Dirigindo-se a aqueles, entre os seus alunos, “a quem nenhum
sacrifício que os leve à VERDADE eterna fará jamais desanimar”, H.P.B. adotou uma ideia do poeta
como lema da sua Escola interna:
“Para cima e para a frente, sempre.”
E acrescentou:
“Que este seja o lema da Escola Esotérica, simbolizando a Morte do egoísmo e do pecado através do
claro alvorecer da ressurreição da Ciência Divina conhecida como TEOSOFIA.”[1]
Todo conhecimento verdadeiro produz um efeito probatório.
Pouco depois da morte de HPB, a Escola fundada por ela foi
distorcida por Annie Besant e outros, e usada como instrumento para obter poder
político dentro do movimento teosófico.
No entanto, o problema que foi criado deste modo pertence,
principalmente, ao mundo externo. A real escola esotérica não está localizada
no plano material da vida. Os ensinamentos internos transcendem as burocracias
e possuem no século 21 a mesma vida de sempre. O poema de Longfellow, citado
indiretamente por HPB, exemplifica a linguagem universal e ilimitada da
sabedoria de todos os tempos. [2]
A frase “Para cima e para a frente, sempre” é uma
tradução do título do poema a que HPB se refere sem mencionar o nome de
Longfellow. Nós o veremos agora. Seus versos descrevem a busca individual
daquilo que é eterno e divino. Uma vez que a decisão é tomada, o peregrino deve
buscar constantemente por horizontes mais amplos, até que ele deixa de lado por
completo a ignorância. Longfellow escreveu estas linhas carregadas de
simbolismo:
Excelsior
A noite com suas sombras cai depressa;
A aldeia alpina aos poucos atravessa
Um jovem, que ergue, em meio à neve em
sanha,
Uma bandeira, com a divisa estranha,
Excelsior!
Sua cor é triste, mas sua vista alçada
Lembra uma espada desembainhada,
E a sua voz qual clarim de prata erguida
Lança os sons de uma língua nunca ouvida,
Excelsior!
Casas felizes ele vê, brilhando
Ao fogo quente, familiar e brando;
Mais ao alto espectral geleira ao vento,
E de seus lábios se escapa um lamento,
Excelsior!
“Não tentes a Passagem”, diz-lhe um velho,
“Já ergue a tormenta o seu manto vermelho,
Rugem as águas sem olhar que as sonde!”
E a alta voz de clarim só lhe responde,
Excelsior!
“Oh! fica”, diz-lhe a virgem, “e em meu
seio
Deita a fronte cansada sem receio!”
Nubla-lhe um pranto o olhar azul erguido,
Mas ele ainda responde, com um gemido,
Excelsior!
“Teme os galhos na treva borrascosa!
Teme a uivante avalanche pavorosa!”
São o último boa-noite de quem fica,
E uma voz, longe no alto, lhes replica,
Excelsior!
Nascido o sol, no divino resguardo
Dos santos ermitões de São Bernardo
Quando o salmo de sempre é repetido,
Uma voz grita no ar estremecido,
Excelsior!
Na neve um viajor, semienterrado,
Pela matilha fiel é encontrado,
Tendo em sua mão de gelo branca e lisa
A bandeira, com a estranha divisa,
Excelsior!
Lá, onde a noite fria e cinza pousa,
Sem vida, mas tão belo, ele repousa,
E do céu, sereníssima e clemente,
Desce uma voz, como estrela cadente,
Excelsior! [3]
A
ideia de avançar “Para cima e para a frente, sempre” transmite a mesma mensagem de outro poema admirado por HPB
e que ela citou em várias ocasiões: “Up-Hill” (“Morro Acima”), de Christina
Rossetti. [4]
A
busca da sabedoria é uma peregrinação individual que não pode ser transferida
para alguma organização terrestre, seja ela chamada de “escola esotérica” ou
não. Não existe um livro de receitas convencional para aqueles que querem
alcançar a sabedoria, e um Mahatma dos Himalaias escreveu:
“Na
Ciência Oculta os segredos não podem
ser transmitidos subitamente, mediante uma comunicação escrita, nem mesmo oral.
Se fosse assim, tudo o que os ‘Irmãos’ teriam que fazer seria publicar um
Manual de Instruções que poderia ser ensinado nas escolas, ao lado da
gramática. (….) A verdade é que, até que o neófito atinja a condição necessária
para aquele grau de Iluminação para o qual ele está qualificado e apto, a maior
parte dos segredos, se não todos eles, é incomunicável.
A receptividade deve ser tão grande quanto o desejo de instruir. A iluminação deve vir de dentro.” [5]
Quanto
à luta inevitável entre o peregrino sincero e o erro consciente, Longfellow traduziu
estas linhas de Friedrich von Logau:
Verdade
Quando à noite os sapos estão coaxando,
Acenda o fogo de uma só tocha,
E veja! Todos eles ficam em silêncio!
Do mesmo modo a Verdade silencia o
mentiroso. [6]
A
sinceridade é um talismã eficaz e uma fonte de luz para todos. Na medida em que
o peregrino tenta o melhor e aprende com os erros, ele é um vencedor, e a morte
não existe para ele. Formas externas são deixadas de lado de tempos em tempos,
enquanto a verdadeira vida continua a fluir para o alto e para adiante.
NOTAS:
[1] “Collected Writings of H. P. Blavatsky”, TPH, EUA, volume
XII, p. 599.
[2] Veja em nossos websites associados o
texto “Uma Escola Esotérica de Três Mil Anos”.
[3] “The Works of Henry Wadsworth Longfellow”, The Wordsworth
Poetry Library, Reino Unido, 1994, 886 pp., pp. 66-67. A boa tradução do
inglês foi feita por Alexei Bueno.
[4] Veja por exemplo a abertura do artigo “O Progresso
Espiritual”, de Helena Blavatsky. O poema de Christina Rossetti também é citado
nas Cartas dos Mahatmas. Em inglês, saiba mais sobre a teosofia presente no
poema “Up-Hill” lendo o artigo “The Up-Hill Road”. Os dois textos estão
disponíveis em nossos websites associados.
[5] “Cartas dos Mahatmas”, Editora
Teosófica, volume I, Carta 20, p. 134.
[6] “The Works of Henry Wadsworth Longfellow”, The
Wordsworth Poetry Library, p. 141.
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Uma primeira versão do texto “Longfellow
e o Ensinamento Esotérico” foi publicada anonimamente em “O Teosofista”, edição de setembro de
2015, pp. 14 a 16, sob o título de “Para Cima e Para a Frente, Sempre”.
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O livro foi publicado pela Editora
Teosófica, de Brasília, tem 189 páginas divididas por 20 capítulos e inclui uma
série de exercícios práticos. Está na terceira edição.
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