Influenciado Pela Filosofia de
Helena Blavatsky,
Einstein Foi Um Pioneiro da Cidadania Planetária
Carlos Cardoso Aveline

Albert Einstein
(1879-1955)
Albert Einstein não foi apenas um gênio da Física moderna, mas também um
profeta do futuro. Foi um pioneiro, um precursor. Rompeu rotinas culturais para
antecipar com clareza o surgimento de uma civilização global e fraterna.
Nascido na Alemanha em 14 de março de 1879, a atividade científica
de Einstein é bem conhecida: todos sabem que, a partir de 1905, ele começou a
formular a teoria da relatividade. Mas, por algum motivo, sua filosofia cósmica
da vida foi sistematicamente ignorada. Foram igualmente jogadas ao esquecimento
a sua luta por uma sociedade solidária e as suas propostas de desarmamento
global, de dissolução dos exércitos e de eliminação gradual das fronteiras
nacionais.
A Encyclopaedia
Britannica afirma que Einstein é comparável a Isaac Newton porque cada um
deles revolucionou a Física do seu tempo. O que a Britannica não diz é que tanto Einstein como Newton foram pensadores
místicos e estudantes de filosofia esotérica. Este aspecto central da vida e da
obra dos dois pensadores foi sistematicamente ignorado por seus contemporâneos
e mesmo hoje é conhecido por poucos.
“Minha condição humana me fascina”, escreveu Einstein.
“Conheço o limite da minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas
às vezes o pressinto (...). Cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida –
corpo e alma – como integralmente dependente do trabalho dos vivos e dos
mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo, e não paro de receber.” [1]
Grande alma, pensador maduro, Einstein escrevia para
gente de todas as religiões e filosofias. Falava sempre do essencial e evitava envolver-se desnecessariamente com formas
externas. Seu grande tema foi a atitude do homem diante de si mesmo e do cosmo.
“O mistério da vida me causa a mais forte emoção”,
escreveu. “É o mesmo sentimento que desperta a beleza e a verdade, cria a arte
e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação, ou se não pode mais
experimentar assombro ou surpresa, já é um morto-vivo, e seus olhos se cegaram.
A realidade secreta do mistério que constitui a religião é, também, aureolada de temor. Por isso os homens
reconhecem algo de impenetrável às suas inteligências, mas eles conhecem as
manifestações externas desta ordem
suprema e da Beleza inalterável. Os homens se confessam limitados, e seu
espírito não pode apreender esta perfeição. E este conhecimento e esta
confissão tomam o nome de religião. Deste modo, mas somente deste modo, sou
profundamente religioso. (...) Não me canso de contemplar o mistério da
eternidade da vida.” [2]
Einstein sabia apreciar o melhor das filosofias e
religiões terrestres, mas estava voltado para o cosmo infinito. Para descrever
o que sentia em relação ao mistério do que é ilimitado, ele escreveu:
“Dou a isto o nome de religiosidade cósmica, e não posso
falar dela com facilidade, já que se trata de uma noção muito nova, à qual não
corresponde nenhum conceito antropomórfico de Deus. O homem experimenta o nada
das aspirações e das vontades humanas, e descobre a ordem e a perfeição onde o
mundo da natureza corresponde ao mundo do pensamento. A existência individual é
vivida então como uma espécie de prisão, e o ser deseja provar a totalidade da
Existência como um todo perfeitamente inteligível.” [3]
Sem dúvida, ele estudou e compreendeu a teosofia ou
sabedoria universal que está presente na essência das diferentes culturas e
religiões. Mas também percebeu que ela está ausente das Igrejas:
“Notam-se exemplos desta religião cósmica nos seus
primeiros momentos de evolução em alguns salmos de Davi ou em alguns profetas.
Em grau infinitamente mais elevado, o budismo organiza os dados do cosmo, que
os maravilhosos textos de Schopenhauer nos ensinaram a decifrar. Ora, os
gênios-religiosos de todos os tempos distinguiram-se por esta religiosidade
diante do cosmo. Ela não tem dogmas nem Deus concebido à imagem do homem,
portanto nenhuma igreja ensina a religião cósmica. Temos também a impressão de
que os hereges de todos os tempos da história humana se nutriam com esta forma
superior de religião. Contudo, seus contemporâneos muitas vezes os tinham por suspeitos de ateísmo, e às vezes também
de santidade. Considerados deste ponto
de vista, homens como Demócrito, Francisco de Assis ou Spinoza se assemelham
profundamente.” [4]
Para Einstein, o papel mais importante da arte e da ciência é despertar e manter vivo o
sentimento desta religiosidade cósmica nas pessoas sensíveis a ela. Alguns
pensadores percebem a realidade transcendente, e passam uma vida inteira
ensinando a filosofia esotérica mesmo sem jamais terem lido uma obra nominalmente
teosófica; mas este, certamente, não foi o caso de Einstein. Depois da sua
morte, a sobrinha que conviveu com ele durante muito tempo relatou que um
exemplar de “A Doutrina Secreta”, a obra máxima de Helena Blavatsky, permanecia
sempre sobre sua escrivaninha. E há outro testemunho direto neste sentido; um
cidadão chamado Jack Brown fez afirmação similar, em um artigo em que narra uma
visita a Einstein. [5]
Com cerca de 1.500 páginas na edição original, a obra “A
Doutrina Secreta” tem dois grandes temas profundamente interligados. Um deles é
a origem do Cosmo, do sistema solar e do nosso planeta; o outro é a origem e a evolução da nossa humanidade.
A influência de Blavatsky sobre Einstein foi investigada
pela biógrafa Sylvia Cranston:
“Robert Millikan pode ter sido um dos primeiros
cientistas a apresentar ‘A Doutrina
Secreta’ para Einstein. De 1921 a 1945 ele foi o diretor do Laboratório
Norman Bridges no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena; ele era
também o presidente do comitê executivo do Cal
Tech. Nos anos 30, Millikan ajudou a trazer Einstein para os Estados
Unidos. Por três verões, Einstein trabalhou em Cal Tech, antes de aceitar um posto em Princeton. Millikan estava
profundamente interessado em ‘A Doutrina
Secreta’. Durante seu mandato em Cal
Tech, uma cópia do livro, na biblioteca
da escola, era tão solicitada que para alguém conseguir o seu empréstimo tinha
que colocar o nome numa longa lista de espera. Parece provável que Millikan
tenha sido um dos que despertaram o interesse de Einstein pela Doutrina Secreta.”
Sylvia Cranston prossegue:
“Outra pessoa pode ter sido Gustav Stromber, um
astrofísico do Observatório Mount Wilson, de Los Angeles, que foi um bom amigo
de Einstein e trabalhou com ele no observatório. Quando a obra de Stromberg ‘Soul of the Universe’ (Alma do Universo) foi publicada, tinha
na orelha uma recomendação de Einstein. É interessante notar que, durante este
período, Boris de Zirkoff, compilador de ‘H.P.Blavatsky
Collected Writings’, visitava frequentemente o observatório e fez amizade
com os astrônomos de lá. Disse ele que todos estavam interessados em teosofia,
particularmente o dr. Hubbell. Stromberg visitou a Sociedade Teosófica em Point
Loma, e, certa vez, fez uma palestra lá; ele escreveu até mesmo a introdução
para um livro de astronomia de dois teosofistas de Point Loma.” [6]
Naturalmente, eles preferiam não divulgar de modo público
que estudavam uma filosofia aparentemente
tão distante dos dogmas científicos como a da tradição esotérica.
Como Helena Blavatsky, Einstein era irreverente. Quando
discutia assuntos humanos, não usava meias palavras. Sua visão das questões
sociais era holística. Ele era um cidadão planetário e a Terra era seu país.
Judeu, antecipou-se à perseguição dos nazistas e deixou Berlim em 1932, quando
a ascensão de Hitler já era inevitável. Foi morar nos Estados Unidos em 1933. Desde o final da segunda guerra mundial até o
final da sua vida em 1955, ele participou ativamente de campanhas pela paz
mundial.
Do mesmo modo que Blavatsky em relação ao século 19,
Einstein foi um enigma. Ele não se encaixava nas definições estreitas da sociedade do século 20. Os comunistas o
consideravam um capitalista, porque defendia a liberdade individual e a
liberdade de consciência. Já os capitalistas o consideravam um comunista porque
buscava a justiça social e tinha ideias socialistas. Do ponto de vista das
religiões dogmáticas, ele era visto como um ateu. E sua consciência fundamentalmente mística do
universo era igualmente incômoda para as religiões convencionais e para o
materialismo tecnocrático, que já reinava supremo durante os anos da guerra
fria.
“A pior das instituições humanas se chama exército”,
escreveu Einstein. “Eu o odeio. Se um
homem puder sentir qualquer prazer em desfilar aos sons de música, eu desprezo
este homem... Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível da civilização
este câncer, o exército. Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a
violência gratuita e o nacionalismo estreito. A guerra é a coisa mais
desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar desta
indignidade. No entanto, creio profundamente na humanidade. Sei que este câncer
de há muito deveria ter sido extirpado. Mas o bom senso dos homens é
sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola, imprensa, mundo dos
negócios, mundo político.” [7]
Embora fosse pacifista, Einstein não hesitou na luta
contra o nazismo. Os seguidores de Hitler buscavam o domínio da energia nuclear,
quando Einstein alertou o presidente norte-americano Franklin Roosevelt de que
era preciso antecipar-se a eles. Ele explicou:
“Minha responsabilidade na questão da bomba atômica se
limita a uma única intervenção. Escrevi uma carta ao presidente Roosevelt. Eu
sabia ser necessária e urgente a organização de experiências de grande envergadura
para o estudo e a realização da bomba atômica. Eu o disse. Conhecia também o
risco universal causado pela descoberta da bomba. Mas os cientistas alemães se
encarniçavam sobre o mesmo problema e tinham todas as chances para resolvê-lo.
Assumi portanto minhas responsabilidades. E, no entanto, sou apaixonadamente
pacifista. (...) Hoje a guerra significa o aniquilamento da humanidade.” [8]
Devido em parte ao alerta de Einstein, o Ocidente
democrático saiu com vantagem na era nuclear. Do ponto de vista esotérico, a
humanidade é guiada por inteligências planetárias benignas, e a destruição das
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em seis e nove de agosto de 1945, tem
servido até hoje como uma espécie de vacina cármica contra a doença mortal
da guerra nuclear.
A lembrança de Hiroshima e Nagasaki cumpre papel central
para que as ilusões bélicas e nacionalistas não vençam o respeito pela própria
vida. Esta lição amarga existe em parte porque Einstein ajudou a colocar em
movimento, ainda durante os anos 1940, a produção das bombas atômicas que iriam
destruir duas grandes cidades japonesas, mostrando para todos, e para sempre,
que não é mais possível fazer guerras totais neste planeta.
Como todo grande místico e ocultista, Einstein sabia
mover-se bem em meio aos paradoxos da vida humana. Não lhe faltava
discernimento. Logo que a Segunda Guerra
Mundial terminou, Einstein passou a propor a formação de um governo mundial
democrático que tivesse o monopólio da força atômica. Para ele, os estados
nacionais funcionavam como os antigos senhores feudais, e era preciso derrotar
o nacional-feudalismo para libertar
os povos e inaugurar a era da paz.
“O estado nacional assumiu os direitos de vassalagem dos
senhores feudais”, escreveu Emery Reves, inspirado nas propostas de Einstein. O
senhor feudal europeu no século 12, por exemplo, tinha a soberania judicial,
militar e financeira sobre os moradores das suas terras. Em alguns casos, o
senhor feudal cunhava suas próprias moedas. Ele tinha sua bandeira e outros símbolos,
aos quais os habitantes locais deviam jurar fidelidade. [9] Todas estas funções de servidão foram assumidas, mais tarde,
pelos governos nacionais monarquistas ou republicanos. Os cidadãos até hoje
exercem um poder muito limitado, e os estados nacionais se comportam como
senhores feudais capazes de entrar em guerra
com os senhores de outras terras. Daí a necessidades de forças armadas
em cada país. Após Hiroshima e Nagasaki,
no entanto, o armamentismo nacionalista tornou-se ainda mais perigoso e destituído
de sentido.
A ideia básica formulada por Einstein – uma democracia
mundial que promova um processo de desarmamento gradual – é uma solução a longo
prazo inevitável. Temos caminhado para ela de um modo extremamente lento. A
Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o atual clube atômico –
formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU –
tentam evitar a proliferação da bomba nuclear, mas seus esforços somados ainda
são uma concretização pobre e limitada da proposta de Einstein. Não passam de
um tímido começo.
Para Einstein, a autoridade da ONU terá força real quando
seus líderes forem eleitos diretamente pelos cidadãos do planeta. Neste
contexto, o Conselho de Segurança da ONU deverá estar subordinado à Assembleia
Geral, que será o parlamento democrático. [10] O atual parlamento europeu e a União Europeia
constituem um passo que nos aproxima do sonho milenar de uma democracia da
humanidade, com um conjunto de instituições legítimas, que reúnam
fraternalmente todos os povos, respeitando a liberdade de cada indivíduo e cada
cidade, e vivendo em harmonia com a natureza e as leis do cosmo.
Em um texto de 1940 sobre a liberdade, Einstein definiu dois
pontos centrais para a transição da
sociedade humana em direção à civilização próspera e luminosa do futuro.
Em primeiro lugar, disse ele, “aqueles bens
indispensáveis para manter a vida e a saúde de todos os seres humanos devem ser
produzidos com o menor trabalho possível de todos”. Em segundo lugar, “a
satisfação das necessidades físicas é de fato uma precondição para uma
existência satisfatória, mas não é suficiente”. Para ser feliz, o ser humano
necessita sentir que cresce intelectual e espiritualmente. Ele deve ter tempo
livre para si mesmo. A jornada de trabalho deve ser gradualmente reduzida, o
que é possível graças aos avanços tecnológicos. Mas, além disso tudo, ele precisa
ter uma liberdade interior, uma profunda liberdade de pensamento. O ser humano
não pode ser forçado a aceitar dogmas religiosos, filosóficos ou políticos.
Deve aprender a ver as coisas por si mesmo, sem correr o risco de ser
perseguido ou marginalizado por isso. “Esta liberdade de espírito consiste na
independência de pensamento em relação às restrições provocadas por preconceitos
sociais e autoritários, mas também em relação às rotinas e aos hábitos em
geral”, escreveu.
E prosseguiu:
“Esta liberdade interior é uma dádiva pouco frequente da
natureza, e um objetivo valioso para o indivíduo. No entanto, a comunidade também pode fazer
muito para estimular esta conquista, e para, pelo menos, não criar obstáculos a
ela. Assim, as escolas podem bloquear o desenvolvimento da liberdade interior
através de influências autoritárias e da imposição de compromissos espirituais
demasiado grandes para os jovens; de outra parte, as escolas podem favorecer
esta liberdade encorajando o pensamento independente. Só quando a liberdade
externa e interna são buscadas consciente e constantemente é que existe a
possibilidade de um desenvolvimento e um aperfeiçoamento espirituais, e deste
modo de uma melhora da vida interior e externa do homem.”[11]
No plano político e social, uma expressão desta liberdade interior será a
democracia global da nova era. Einstein registra o fato de que a concentração
de poder em mãos de uns poucos acompanhou o surgimento de novas tecnologias, como
a nuclear, que induzem a um controle cada vez mais centralizado das sociedades.
Atualmente, com o avanço da energia solar e de outras energias alternativas, e
com a informatização em rede da sociedade em todo o mundo, vemos o surgimento de
uma base infraestrutural e tecnológica que servirá à descentralização política
e econômica da sociedade na nova era. O Estado nacional não foi dissolvido mas já
perde força. Independentemente das barreiras nacionais e culturais, crescem as relações
diretas entre as pessoas e grupos de pessoas.
Einstein pensava e atuava como um teosofista em relação aos
diferentes aspectos da vida.
Segundo a filosofia esotérica, por exemplo, é a motivação
que decide o rumo da vida. A intenção individual é o leme do barco. Ela determina
que tipo de carma ou de situação será criado. A qualidade e a intensidade dos
vários níveis de intenção de um indivíduo permitem avaliar a verdadeira substância
da sua vida e, por isso, o aparente êxito ou derrota no mundo são secundários.
Einstein afirma o
mesmo princípio básico. Ele define como objetivo legítimo da vida de um
indivíduo a meta de servir a comunidade de um modo livre, criativo e independente. “O motivo mais importante
para trabalhar na escola e na vida deve ser o prazer do trabalho, o prazer de
ver os seus resultados e de saber da utilidade deste trabalho para a comunidade em que se vive”, escreve.[12] Para
ele, a escola – primária, secundária ou de nível superior – deve ser um local
de livre busca da verdade, e não de mero condicionamento do aluno.
“Educação é aquilo que fica depois que esquecemos tudo o
que nos foi ensinado na escola”, afirmou. [13]
A educação deve ter como meta que o jovem saia da escola com uma personalidade
harmoniosa e aberta para a vida, e não como proprietário de um conhecimento
especializado: “A prioridade deve ser sempre o desenvolvimento de uma
habilidade geral de pensar e avaliar com independência, e não a aquisição de
algum conhecimento específico”, escreveu. [14]
Na juventude, Einstein foi considerado pouco brilhante
nos estudos e sem grande capacidade profissional, até que começou subitamente a elaborar as grandes questões do Universo de
um modo que renovava não só a Física,
mas o mundo científico do seu tempo. Uma inteligência universal pode parecer inteiramente
inexpressiva e insignificante, do ponto de vista dos cérebros limitados que
preferem ficar presos às coisas pequenas de curto prazo; e isso ocorreu com
Einstein. Sua teoria do conhecimento era essencialmente teosófica:
“Todas as religiões, artes e ciências são galhos da mesma
árvore”, escreveu ele, fazendo uma referência à árvore da sabedoria universal, uma
imagem simbólica das tradições antigas que é amplamente discutida em “A Doutrina Secreta”. E prosseguiu:
“Todas estas aspirações buscam tornar mais nobre a vida
do homem, elevando-a da esfera da mera existência física e levando o indivíduo
à liberdade. Não é por acaso que nossas universidades mais antigas surgiram de escolas clericais e
religiosas. Tanto as igrejas como as universidades – quando cumprem sua
verdadeira função – trabalham para tornar o indivíduo mais nobre...” [15]
Na Grécia antiga, Platão escreveu que “não há nada mais
poderoso que o conhecimento” e ensinou que o conhecimento é preferível ao
prazer e a todas as outras coisas (“Protágoras”, 357). O conhecimento é a percepção da verdade; e o lema do movimento teosófico moderno é
“Não há religião mais elevada que a Verdade”.
Einstein concorda com esta ideia fundamental. Mas, como Platão e os teosofistas,
ele também sabe que a mente humana só atinge a plenitude quando se deixa
iluminar pela luz da intuição.
“Nossa sociedade tem orgulho do progresso intelectual
recente do homem”, escreveu. “A busca e o esforço pela verdade e pelo
conhecimento é uma das qualidades mais elevadas do ser humano – embora
frequentemente o orgulho seja expressado de modo mais barulhento pelos que
menos se esforçam. E certamente devemos ter cuidado para não transformar o
intelecto em nosso deus; ele tem, de fato, músculos poderosos, mas não tem
personalidade. O intelecto não pode conduzir; pode apenas ajudar. (...) O
intelecto vê com clareza métodos e instrumentos, mas é cego para metas e
valores.” [16]
O primeiro objetivo do movimento teosófico moderno é a
criação de um núcleo de fraternidade universal, independentemente de raça,
credo, sexo, classe social ou ideologia, e Albert Einstein parece ter tido a
mesma meta. Ele escreveu:
“Nossos antepassados judeus, os profetas e os velhos
sábios chineses proclamavam que o fator mais importante para a vida humana é o
estabelecimento de uma meta: a de construir uma comunidade de seres humanos
livres e felizes que, através de um constante esforço interior, lutam para libertar-se
da sua herança de instintos antissociais e destrutivos. Neste esforço, o
intelecto pode ser um auxiliar de grande importância. Os frutos do esforço
intelectual, unidos aos outros aspectos do esforço e à capacidade criativa do
indivíduo, dão significado à vida.” [17]
De fato, um velho axioma da filosofia oriental e
esotérica afirma que o objetivo da vida é a elevação e a expansão da consciência
dos seres humanos, de modo que ela possa compreender cada vez melhor e mais
tarde possa até mesmo dissolver-se na consciência divina universal, que é
eterna e indivisível. A partir da nova era de Aquário, em que estamos
ingressando, a percepção clara e cotidiana deste objetivo passa a ser possível
para um número crescente de seres humanos.
É no contexto desta nova consciência cósmica, teosófica
ou oceânica, que podemos compreender o
autorretrato intelectual esboçado por Einstein
em 1936:
“O que sabe um peixe sobre a água em que ele nada toda a
sua vida? O amargo e o doce vêm de fora, e o duro vem de dentro, dos seus
próprios esforços. Normalmente eu faço as coisas que minha própria natureza me
leva a fazer. É constrangedor inspirar tanto respeito e tanto amor por causa
disso. Flechas de ódio também foram atiradas sobre mim; mas elas nunca me atingiram,
porque de algum modo pertenciam a outro mundo, com o qual não tenho conexão
alguma. Vivo naquela solidão que é dolorosa na juventude, mas deliciosa nos
anos maduros da vida.” [18]
NOTAS:
[1] “Como Vejo o Mundo”, Albert
Einstein, Ed. Nova Fronteira, 12ª edição, RJ, 214 pp., 1981, ver p. 9. A
primeira edição da obra saiu em 1953, dois anos antes da morte de Einstein. O
livro é uma compilação de escritos, alguns fragmentários.
[2] “Como Vejo o Mundo”, Albert
Einstein, pp. 12-13.
[3] “Como Vejo o Mundo”, pp. 20-21.
[4] “Como Vejo o Mundo”, p. 21.
[5] “Helena Blavatsky”, Sylvia
Cranston, Ed. Teosófica, Brasília, 1997, 678 pp., ver p. 20.
[6] “Helena Blavatsky”, Sylvia
Cranston, pp. 651-652.
[7] “Como Vejo o Mundo”, Albert
Einstein, p. 12.
[8] “Como Vejo o Mundo”, p. 60.
[9] “A Anatomia da Paz”, Emery
Reves, Cia. Editora Nacional, SP, 273 pp., 1946. Veja o capítulo dois,
especialmente a página 104 e seguintes.
[10] “Out of My Later Years”, Albert
Einstein, Wings Books, Nova Iorque, EUA, 282 pp., 1996, ver p. 158.
[11] “Out of My Later Years”, Albert
Einstein, pp. 10-12.
[12] “Out of My Later Years”, Albert
Einstein, p. 33.
[13] “Out of My Later Years”, Albert
Einstein, p. 34.
[14] “Out of My Later Years”, mesma p.
34.
[15] “Out of My Later Years”, p. 7.
[16] “Out of My Later Years”, p. 260.
[17] “Out of My Later Years”, na mesma
p. 260.
[18] “Out of My Later Years”, p. 3.
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O texto acima foi publicado pela primeira vez na revista “Planeta NovaEra”,
da Editora Três, edição 10, no final dos anos 1990, e assinada como “Equipe
NovaEra”. Em 2008, o autor revisou e ampliou
o trabalho para sua publicação online.
Sobre as ideias humanistas de Einstein, veja também a obra “Conversas
na Biblioteca - um diálogo de 25 séculos”, de Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, SC, 2007, 170 pp. O capítulo 23 do livro reúne algumas das
afirmações mais agudas e marcantes feitas pelo físico.
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