Mestres de
Sabedoria Trabalham Por Uma
Nova Ordem dos
Tempos na História Humana
William Q. Judge
William Q. Judge (1851-1896) e Thomas Paine
(1737-1809)
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Nota Editorial:
“Adeptos” são altos Iniciados, isto é,
sábios que têm um conhecimento completo
sobre filosofia esotérica e sabedoria universal.
(CCA)
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As sugestões e afirmações feitas a seguir estão inteiramente sob a
responsabilidade pessoal do autor e - tanto quanto ele saiba - não foram
levadas ao conhecimento ou obtiveram o consentimento dos Adeptos a que, em
termos gerais, se alude.
Qualquer pessoa reflexiva fica atônita e espantada quando examina a história
da formação e da ascensão dos Estados Unidos da América da Norte, e constata
que a Teologia dogmática não dispõe de ponto de apoio em nenhuma parte da
Declaração de Independência ou da Constituição, sobre a qual ela gostaria de
bom grado de construir uma estrutura, e que, desde então, tantas vezes tentou
erigir, dentro, ou sobre, o Governo. Ficamos admirados porque esses documentos
foram redigidos, e o Governo empossado, numa época em que o dogmatismo, de qualquer espécie que
fosse, era muito poderoso e influente.
Embora os Puritanos [1] e outros tivessem vindo para a América para fruir de liberdade religiosa,
eles eram muito dogmáticos e tenazmente arraigados às suas próprias teorias e
crenças particulares, de tal maneira que, se nós tivéssemos encontrado nessa
lei fundamental inúmeras alusões à religião ou a estabelecimentos religiosos, isso
não nos admiraria. Mas é debalde que as procurámos e é em vão também que os
partidários da Igreja de Ferro tentaram embutir a pedra-angular de que
necessitavam, e hoje em dia a América do Norte regozija-se com isso, e foi desse
modo capaz de ter um crescimento maravilhoso que fez o espanto e a admiração da
Europa.
A neutralização dos esforços feitos pela beatice em 1776 se deve aos Adeptos
que olham hoje pela S.T. e lhe outorgam a garantia dos seus Elevados Nomes.
Eles supervisaram a redação da Declaração e o esboço da Constituição, nas
suas grandes linhas, e é esta a razão pela qual nenhum ponto de apoio foi
deixado a esses cristãos tumultuosos que desejam injetar Deus na Constituição.
Na Declaração, da qual brotou a
liberdade, é feita menção à “natureza e
ao deus da natureza”. Nos
parágrafos segundo e terceiro estão especificados os direitos naturais do homem, tais como a vida, a liberdade e a busca pela felicidade. O rei é mencionado
como sendo “indigno de governar uma Nação civilizada”, e nada é dito sobre se
ele seria o chefe, ou se seria digno de ser o chefe, dum povo cristão.
Ao dirigir-se aos seus irmãos britânicos, a Declaração indica que se “faz
um apelo à justiça e à magnanimidade nativas
deles”. Foi deixada de fora qualquer referência a religião, ao Cristianismo
ou aos mandamentos de Deus. E isto pela muito boa razão de que durante 1.700
anos a religião havia lutado contra o progresso, contra a justiça, contra a
grandeza de alma e generosidade, e contra os direitos do homem. E na frase de
conclusão os signatários comprometem-se mutuamente, em juramento, a defender
esta Declaração ignorando qualquer apelo a Deus.
Na Constituição de 1787 é declarado, no Preâmbulo, que o instrumento
definido foi criado para a união, para a justiça, para a tranquilidade e a
defesa, o bem de todos e a liberdade. O Artigo VI estipula que nunca será
exigida uma fé religiosa para aceder a uma função, e a Primeira Emenda proíbe
toda e qualquer instauração de uma religião institucional, ou qualquer
restrição à liberdade de culto.
Ao procurar ao redor do Mundo uma mente através da qual pudessem produzir
na América a reação que era necessária nesta época, os elevados Adeptos
Teósofos encontraram, na Inglaterra,
Thomas Paine. Em 1774 eles influenciaram-no, com a ajuda do valioso Irmão
Benjamim Franklin, para que viesse para
a América do Norte. Ele veio para cá e foi o principal instigador da separação
das Colônias em relação à Coroa Britânica.
Aceitando a sugestão de Washington, Franklin, Jefferson e outros francomaçons,
cujas mentes, através dos ensinamentos dos graus simbólicos da Maçonaria,
estavam aptas a raciocinar corretamente e a rejeitar o conservantismo
teológico, ele escreveu o seu livro “O Sentido Comum”, que se transformou na
tocha incendiária cujas chamas devoraram os laços e os vínculos que existiam entre a Inglaterra e a
América do Norte. Thomas Paine recebeu agradecimentos públicos frequentes por
“O Sentido Comum”. George Washington escreveu a Paine em 10 de Setembro de 1783:
“Eu ficaria extremamente feliz em encontrar-me consigo. A sua presença
recordará talvez aos Membros do Congresso os serviços prestados no passado a este
país, e se eu puder influenciá-los, não
hesite em pedir livremente os meus serviços, que serão prestados com alegria por
alguém que nutre um vivo sentido de reconhecimento pela importância das suas obras.”
E novamente numa carta de junho de 1784, endereçada a Madison, Washington
diz:
“Não se poderá fazer algo na nossa Assembleia em prol do pobre Paine? Os
méritos e os serviços de ‘O Sentido Comum’ dissipar-se-ão pouco a pouco no tempo
sem serem recompensados por este país? As obras de Thomas Paine exerceram
certamente um efeito muito poderoso sobre o espírito do público. Não deveriam aquelas,
portanto, serem por sua vez justamente
recompensadas?” [2]
Na sua obra “A Idade da
Razão”, que escreveu em Paris vários anos mais
tarde, Paine declara: “Eu vi, ou pelo
menos pensei ter visto uma vasta cena que se abria para o Mundo nos assuntos
da América; e pareceu-me que a menos que
os Americanos modificassem o projeto que tinham então, e se declarassem independentes,
não só eles se envolveriam numa multiplicidade de novas dificuldades, mas eliminariam
a perspectiva que, então, surgia para a Humanidade
através deles”. Mais adiante ele diz:
“Há duas categorias diferentes de pensamento: aqueles que resultam da reflexão
e aqueles que surgem na mente
repentinamente e por si próprios. Eu sempre tive por regra tratar estes visitantes
voluntários com cortesia, e é deles que
adquiri todo o Conhecimento que tenho”.
Estes “visitantes voluntários” foram injetados no seu cérebro pelos
Adeptos, Teósofos. Vendo que uma nova ordem dos tempos estava prestes a começar
e que havia uma nova oportunidade para a liberdade e a fraternidade entre os
homens, eles colocaram diante dos olhos de Thomas Paine - em quem sabiam que podiam confiar para
se manter quase sozinho com a lanterna da verdade, no meio de outros que, “em
tempos que testavam os homens” tremiam de medo -, “uma vasta cena que se abria
para a Humanidade nos assuntos da América”. O resultado foi a Declaração e a Constituição da América do
Norte. E como para dar ainda mais peso a estas palavras e à sua afirmação sobre
esta vasta cena que se abre, esta nova ordem dos tempos, o desenho que figura
na parte detrás do grande selo dos Estados Unidos representa uma pirâmide cujo
cume foi truncado e substituído por um resplandecente olho de luz deslumbrante,
inserido num triângulo, por cima do qual estão escritas as palavras “os Céus
aprovam”, e por baixo aparece esta máxima surpreendente: “uma nova ordem dos tempos”.
Não podemos duvidar que ele tinha na ideia uma nova ordem dos tempos,
quando lemos na sua obra “Os Direitos do Homem”, parte dois, capítulo 2: “Não é
na Ásia, na África ou na Europa que
poderia ter começado a reforma da condição política do Homem. Ela (a
América) tomou uma posição que não era só para ela, mas para o mundo, e olhava para
além da vantagem que ela poderia obter”. E no Capítulo 4: “O caso e as
circunstâncias na América apresentam-se como se tratasse do começo dum mundo ...
há um alvorecer da razão que se levanta sobre o homem, em matéria de Governo, que não se tinha visto antes”.
O conteúdo “do selo” não foi acidental, mas tinha a real intenção de simbolizar a construção e a fundação sólida duma nova ordem
dos tempos. Ele estava dando forma à ideia,
que fora mostrada à mente de Thomas Paine através de um “visitante voluntário”,
de uma vasta cena que se abria, o começo na América duma nova ordem dos tempos.
Esse lado do Selo nunca chegou a ser cinzelado ou utilizado, e o lado que é
usado até hoje não foi sancionado pela Lei. Na primavera de 1841, quando Daniel
Webster era o Secretário de Estado, um outro Selo foi esculpido, e em vez da águia
segurar na sua garra esquerda treze (13) flechas como estava previsto, ela
apenas agarra seis. Não só esta modificação não foi autorizada, mas também se desconhece a razão porque foi
feita. [3] Quando o outro lado [do Selo] for
lavrado e utilizado, não estará realmente estabelecida a nova ordem dos tempos?
Portanto, reivindica-se para os Adeptos Teósofos algo mais do que o
simples poder de transformar um metal grosseiro em ouro, ou a posse duma coisa
puramente material como o elixir da vida. Eles observam constantemente o progresso
do homem e ajudam-no no seu voo vacilante em direção das alturas escarpadas do
progresso. Estes Adeptos influenciaram Washington, Jefferson e todos os outros
corajosos francomaçons que ousaram fundar no Ocidente um Governo livre e isento
das escórias e da sujidão do dogmatismo. Eles clarificaram as mentes desses
homens, inspiraram a pluma deles e deixaram impresso, no grande selo desta poderosa
nação, a marca da sua presença.
NOTAS:
[1] Puritano - seguidor do Puritanismo, cuja doutrina é de inspiração Calvinista. Jean
Calvin foi um reformador nascido em 1509, em Genebra na Suíça, tendo morrido em
1564. [Nota do Tradutor]
[2] 9 Sparks, 49. [Nota de William Q. Judge]
[3] Ver os arquivos do Departamento de Estado dos EUA. [Nota de William Q.
Judge]
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O texto acima - cujo título
original é “Adepts in America in 1776” - pode ser encontrado em “Theosophical
Articles”, de William Q. Judge, edição em dois volumes publicada em Los Angeles
pela Theosophy Company. Ver volume II, pp. 70-73. Ele foi publicado pela primeira vez em “The Theosophist”, na Índia, em outubro
de 1883. Escrito por William Q. Judge, foi assinado com o pseudônimo “Um
Ex-Asiático”. A presente tradução foi realizada por associados da Loja Unida de
Teosofistas (LUT) em Portugal.
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