21 de setembro de 2016

Simplificando e Elevando o Carma

A Caminhada Teosófica e o Ciclo
de Sete Anos da Evolução Pessoal 

Carlos Cardoso Aveline



Afirma-se popularmente que a cada sete anos as células do corpo físico humano são renovadas. A afirmação merece um exame cuidadoso.

As diferentes partes do organismo possuem células cuja durabilidade varia. As células de alguns órgãos do corpo duram dias, outras células duram meses, e algumas vivem por décadas. Todas são renovadas de um modo ou de outro.   

Um período de sete anos constitui um ciclo numerológico dos mais importantes e também um subciclo de Saturno. É possível dizer que neste espaço de tempo uma parte decisiva das células do corpo humano é renovada.

Um mestre de sabedoria esclarece:

“…Um homem de qualquer idade, embora seja o mesmo do ponto de vista da sensibilidade, fisicamente não é o mesmo que era alguns anos antes (nós dizemos sete anos, e estamos preparados para defender e provar esta afirmativa); na linguagem budista, os Skandhas dele mudaram. Ao mesmo tempo eles estão sempre e incessantemente trabalhando na preparação do molde abstrato, a ‘particularização’ do futuro novo ser. ” [1]

Em outra ocasião, o Mestre usa linguagem mais direta, ao comparar um globo planetário com uma criança humana, e deixa claro que os átomos do corpo humano mudam a cada sete anos:

“A Lei na Natureza é uniforme, e a concepção, formação, o nascimento, progresso e desenvolvimento da criança só diferem do processo do globo em magnitude. O globo tem dois períodos de dentição e de crescimento capilar - as suas primeiras rochas, que ele também descarta, abrindo espaço para as novas - e suas samambaias e musgos, antes que consiga florestas. Assim como os átomos no corpo mudam a cada sete anos, o globo também renova as suas camadas a cada sete ciclos.” [2]

A qualidade da renovação dos átomos, das células e dos Skandhas, porém, depende das atividades da alma que anima o corpo. A responsabilidade é de cada um. Cada ser humano está o tempo todo construindo a si mesmo. Vejamos então o que pode ocorrer na vida de alguém que, ao aproximar-se da filosofia esotérica, sente que está fazendo uma descoberta significativa.

A Descoberta da Teosofia

A expansão de consciência que ocorre quando uma pessoa “descobre” a teosofia vai muito além dos planos sutis da vida. O pensamento teosófico muda o carma inteiro da pessoa, nas suas diversas camadas. E cada camada ou nível de carma tem o seu ritmo próprio e sua dinâmica específica. A mudança é substancial e não de quantidade. Ocorre no espírito e na matéria.

O conteúdo cármico em si continua basicamente o mesmo. Mas a sua estrutura passa a ser outra, e isso muda o significado e a direção do carma.  

O carma acumulado é como algo que se estoca em uma sala: com o estudo teosófico sério, o “estoque” de carma do indivíduo deixa de estar num “quarto escuro com a lâmpada quebrada”. Abre-se uma janela e entram sol e ar puro. Abrir e fechar a porta deixam de ser ações dolorosas. Quando necessário acende-se a luz e a lâmpada funciona.

O carma acumulado, em contato com a luz do dia, passa a ser revisado e reprocessado. Purifica-se, torna-se mais leve, flexível, adaptável, e funciona como fonte de lições conscientes.

O carma alterado pelo estudo da lei abstrata universal se torna gradualmente mais sutil até permitir uma sintonia direta com a essência do cosmo. O carma purificado pelo contato com a inteligência espiritual não permanece isolado no plano superior. A sua influência se espalha e se registra em todas as camadas do ser até chegar ao organismo físico do indivíduo, assim como antes se registrara o carma mental anterior, mais denso e relativamente cego.   

Cada célula, com seu grau de inteligência própria, recebe a energia búdica superior. Quando a energia superior aumenta sua influência, a célula precisa reacomodar-se a ela. [3]

Durante a vida de uma célula específica, esta reacomodação só pode ser feita até certo ponto. Quando a célula é substituída, a sua sucessora virá com aptidões mais amplas e uma possibilidade maior de vibrar e viver de acordo com a energia teosófica. Será preciso desapegar-se de padrões vibratórios contraindicados. Pouco a pouco, a influência do que o indivíduo aprende no plano mental é absorvida no plano físico e no plano emocional. Os contrastes e os desafios estarão presentes: todo aprendizado espiritual é probatório e traz perigos.

O progresso na direção da integração e da coerência será tanto mais forte quanto maior a força da integração do indivíduo consigo mesmo. Um exemplo desta construção de afinidade entre o físico e o sutil é dado pela prática do vegetarianismo. A abstenção da violência implícita no hábito de comer carne torna mais fácil para o ser humano viver e compreender a fraternidade universal. A substância material do seu corpo físico muda para melhor e se torna mais compatível com o mundo do espírito.

O Material e o Espiritual

O fato de que a cada sete anos muda uma parcela decisiva das células, dos átomos e dos Skandhas de um ser humano faz com que a sua constituição oculta passe a ser outra. Estas mudanças graduais podem ser observadas com várias formas de marcar o tempo, começando com o tempo imediato.

* A cada poucos segundos, renovamos o oxigênio que impulsiona a vida do nosso corpo físico. Um dia de 24 horas significa uma revolução completa da terra em torno de si mesma e constitui uma oportunidade plena de viver corretamente.

* Durante um trimestre, um quadrimestre e um semestre ocorrem alterações substanciais, em diálogo com a movimentação espiritual dos astros no céu.

* A cada 12 meses de estudo de teosofia, um novo ciclo solar completo renova até certo ponto as células, os hábitos, os pensamentos e os sentimentos acumulados.

* A cada quatro anos já se passou mais da metade do período setenário. Há uma grande diferença na estrutura do carma.

Quando a intenção é nobre e é firme, a passagem do tempo traz uma alteração purificadora e um progresso na qualidade de vida em todos os níveis, preparando melhores encarnações no futuro. A condição essencial para avançar é a sinceridade para consigo mesmo e para com os outros.

O teosofista bem informado estuda a relação entre o material e o espiritual. Toda célula do organismo físico de um ser humano registra em si os padrões de sintonia dominantes do indivíduo, tanto no plano das emoções como das ideias, dos hábitos e das intuições. Registra também o grau de aptidão contemplativa que ele possui. A renovação das células e dos átomos abre gradualmente novos e melhores caminhos. Para otimizar o processo, cabe ao estudante de teosofia vincular as suas ações físicas, emocionais e pensamentais sempre mais estreitamente entre si, harmonizando o processo todo.

Não importa que o progresso não seja percebido: é invisível a germinação da semente plantada sob a terra.

Cada vez que o peregrino avança alguns passos, todo o resto da caminhada torna-se mais compreensível. A dificuldade passa a perder importância, embora os perigos possam ser ocasionalmente grandes. Com o surgimento de vibrações mais elevadas, o abandono de vibrações grosseiras passa a ser obrigatório. Não há outro caminho a seguir, exceto o da sabedoria.  

NOTAS:

[1] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, dois volumes, 2001, ver vol. I, Carta 68, pp. 311-312.

[2] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, vol. I, Carta 67, resposta à pergunta 2, p. 289.  

[3] Veja mais sobre a inteligência das células nas páginas 115 e 116 do livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline, Ed. Teosófica, Brasília, 2002, 191 páginas.

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O texto acima foi publicado nos websites associados em setembro de 2016, e atualizado e ampliado pelo autor em 15 de janeiro de 2020.

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Sobre o fato de que a inteligência universal está presente não só nas células do corpo humano mas também em cada átomo, pedra, planta ou animal, veja o texto “Um Cosmo Em Cada Feto Humano”.

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