O Canto dos Galos Como
Metáfora da Nova Era
João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto

0000000000000000000000000000000000000
Nota Editorial:
“Uma
andorinha só não faz o verão”,
diz o
velho ditado. Embora não faça
o verão,
ela pode anunciá-lo. De modo
semelhante,
abrir espaço para a nova era
de
fraternidade universal exige pioneirismo,
mas não
é uma tarefa solitária, e sim solidária.
(Carlos
Cardoso Aveline)
000000000000000000000000000000000000000000
Um galo
sozinho não tece uma manhã:
ele precisará
sempre de outros galos.
De um que apanhe
esse grito que ele
e o lance a outro;
de um outro galo
que apanhe o grito
que um galo antes
e o lance a outro;
e de outros galos
que com muitos
outros galos se cruzem
os fios de sol de
seus gritos de galo,
para que a manhã,
desde uma teia tênue,
se vá tecendo,
entre todos os galos.
2
E se encorpando em
tela, entre todos,
se erguendo tenda,
onde entrem todos,
se entretendendo
para todos, no toldo
(a manhã) que
plana livre de armação.
A manhã, toldo de
um tecido tão aéreo
que, tecido, se
eleva por si: luz balão.
000
O poema
acima é reproduzido do volume “A
Educação Pela Pedra”, de João Cabral de Melo Neto, Ed. Alfaguara /
Objetiva, RJ, 292 pp., ver p. 219.
000