Conhecimento Autêntico Ensina
A Reinventar a Vida Todos os
Dias
Carlos Cardoso Aveline

Os ensinamentos de filosofia esotérica foram transmitidos na
parte final do século 19 por Helena P. Blavatsky e aqueles que colaboraram diretamente
com ela. A partir da morte de HPB,
ocorrida em 1891, começaram as distorções e as imitações dos escritos
originais.
A produção de falsificações espalhou-se através da falsa
clarividência e de conversas imaginárias com supostos mestres. Os “ensinamentos”
que resultam de plágio e fantasia podem ter linguagem pretensiosa, mas chamam a
atenção pela superficialidade. E embora
a tarefa de identificar e rejeitar a
pseudoteosofia seja em si mesma bastante difícil, não é suficiente. Há outros desafios a vencer no século 21.
A distorção e a fraude bem intencionada não são as únicas
maneiras pelas quais a ilusão ameaça o movimento teosófico. O apego rotineiro às
palavras escritas por Helena P. Blavatsky não garante coisa alguma. Papagaios
repetem, mas não compreendem. A relação
com o ensinamento original precisa ser um processo vivo, questionador, e sujeito
a questionamento. Exatamente por que trabalha com o que é primordial, e não com
cópias, o enfoque da teosofia clássica não está apegado à letra morta. A meta
da filosofia esotérica autêntica inclui a preservação dos escritos clássicos,
mas não consiste em ensinar pessoas a repetir mecanicamente o que H. P. B.
escreveu.
Os estudantes de teosofia clássica sabem que não há
fronteiras no pensamento humano. Embora tenham como referência as obras de H.
P. Blavatsky, este não é o campo exclusivo da sua atenção. Os livros de HPB são
uma chave para a compreensão da literatura universal e dos assuntos
contemporâneos. A teosofia ensina a olhar com lucidez os fatos de hoje e a
construir o mundo melhor de amanhã. O teosofista bem informado segue o exemplo
de Terêncio, o pensador clássico, e afirma:
“Tudo o que é humano me diz respeito.”
Há diferenças, mas não há separação. Depois de adotar um ponto de vista ético e correto,
o estudante de filosofia deve olhar para todas as coisas, e aprender com elas.
O discernimento espiritual resulta da capacidade de tirar
lições dos erros próprios e alheios. O ensinamento original de teosofia exclui os
frutos apodrecidos da pseudoclarividência do século 20, e deixa de lado o apego
a cerimônias, rituais, burocracias “esotéricas” e outras formas de ilusão, uma
vez que elas tenham sido devidamente identificadas e documentadas como tais. [1]
Se alguém deseja aprender filosofia esotérica, deve
escolher fontes confiáveis. Quando um método de ensino de teosofia é eficaz, ele
é transparente. Os estudantes devem ser capazes de discutir o processo
pedagógico. A independência individual é então respeitada e estimulada.
Os instrutores que escondem seus métodos facilmente
chegam ao ponto de cobrar dinheiro por um ensinamento que, sendo universal, não
pertence a eles, mas a todos os seres. Alguém poderia cobrar pelo ar que
respiramos? Por estes e outros motivos, quem teme a transparência não merece
confiança.
O ensinamento clássico deve ser estudado em seu espírito e não apenas em
sua vestimenta externa. Um exame correto dos textos originais permite ao
estudante perceber seu significado transcendente. O conhecimento autêntico
ensina a reinventar a vida todos os dias à luz da verdade eterna.
Helena Blavatsky escreveu:
“…Uma vez que um estudante abandona o velho e desgastado
caminho da rotina e entra no caminho solitário do pensamento independente - em
direção à divindade - ele é um teosofista. É um pensador original, um buscador
da verdade eterna e que possui ‘uma inspiração própria’ para resolver os
problemas universais. A teosofia é aliada de todo aquele que busca seriamente,
da sua própria maneira, obter um
conhecimento do Princípio Divino, da relação
do homem com este Princípio e das manifestações deste Princípio na
natureza.” [2]
De fato, o ensinamento original usa o escrito clássico
como um instrumento para chegar às verdadeiras lições. Um Mestre dos Himalaias
explicou:
“Na Ciência Oculta os segredos não podem ser transmitidos subitamente, mediante uma comunicação
escrita, nem mesmo oral. Se fosse assim, tudo o que os ‘Irmãos’ teriam que
fazer seria publicar um Manual de Instruções que poderia ser ensinado nas
escolas, ao lado da gramática. É um erro comum das pessoas acreditarem que nós
nos envolvemos, e envolvemos os nossos poderes, em mistério por vontade nossa;
que desejamos manter nosso conhecimento para nós mesmos, e que por nossa
própria vontade nos recusamos a transmiti-lo ‘deliberadamente e de modo
irresponsável’. A verdade é que, até que o neófito atinja a condição necessária
para aquele grau de Iluminação para o qual ele está qualificado e apto, a maior
parte dos segredos, se não todos eles, é incomunicável.
A receptividade deve ser tão grande quanto o desejo de instruir. A iluminação deve vir de dentro. Até lá, nenhum
truque de encantamento ou jogo de aparências, nem palestras ou discussões
metafísicas, e tampouco penitências autoimpostas, podem dar essa iluminação.
Todos estes são apenas meios para um fim, e a única coisa que podemos fazer é
dirigir o uso destes meios, que, como foi comprovado pela experiência das
idades, levam ao objetivo buscado. E há milhares de anos que isto não é segredo.” [3]
Um dos motivos pelos quais a plena atenção é o tempo todo
necessária está no fato de que o ensinamento vai além das palavras.
Um Mestre escreveu a uma discípula:
“Trate, filha, de aprender
uma lição através de quem quer que seja que ela possa estar sendo dada.
‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões’.” [4]
As melhores lições vêm através do coração do estudante.
O centro de paz na consciência do indivíduo é impessoal e
silencioso. A ajuda mútua estimula a verdadeira aprendizagem, e nela não há
barulho: o verdadeiro mestre é o eu superior, que fala sem palavras.
NOTAS:
[1] Veja a respeito o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”,
de Carlos Cardoso Aveline, The Aquarian Theosophist, Portugal, 255 pp., 2013.
[2] “O Que é um Teosofista?”, artigo de H. P. Blavatsky disponível em nossos
websites associados.
[3] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Transcritas e Compiladas por A. T.
Barker, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, 372 pp., Volume I, Carta 20, pp.
134-135.
[4] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Transcritas e Compiladas por C.
Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, 2010, 295 pp., primeira série, Carta II
para Laura Holloway, p. 147.
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Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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