Teosofia Autêntica Desmascara
Processos de Dominação Mental Coletiva
Carlos Cardoso Aveline
Visão parcial do quadro “Escola de Atenas”, de Rafael:
ensinando a pensar
com independência, a filosofia elimina a prática da
repetição cega de ideias falsas.
É uma necessidade
histórica, no século 21, retirar a carga de visão míope acumulada em torno de
palavras como “Democracia” e “Política”, e examinar o seu real significado.
Os
dois conceitos pertencem à filosofia e à teosofia. Não estão a serviço de
interesses eleitorais. Requerem uma visão ampla, que vai além dos detalhes
isolados.
Política é a
ciência da administração dos interesses comuns de todos na Polis ou comunidade, através das decisões mais corretas e duráveis
que as circunstâncias permitem.
Democracia
significa que todos precisam ser ouvidos, no sentido de que os interesses e as
necessidades de cada um devem ser levados em conta. Nos seus aspectos
superiores, a democracia expressa a Lei da fraternidade universal.
Os
maiores filósofos de todas as épocas lidaram com a Política no seu sentido
elevado de busca do bem comum, e não de poder de curto prazo.
Este
foi o caso de Sócrates, Platão, Aristóteles, Marco Aurélio, Sêneca, Cícero,
Hutcheson, Rousseau, Kant, e, à sua própria maneira, Helena Blavatsky. A
fundadora do movimento teosófico moderno agiu politicamente ao mostrar as falhas da ciência convencional, da
religião dogmática e das instituições autoritárias. E também foi politizada
quando criou um núcleo intercultural e internacional de fraternidade, sem levar
em conta fatores como raça, sexo, país, classe social, casta ou ideologia.
Fanatismo Troca
a Razão pelo Slogan
A
teosofia original é antiautoritária mas não age contra as autoridades. Ela vê a
diferença entre autoridade e autoritarismo. Ela confia na lei do carma. Ela
planta o bem, deixa que o carma amadureça, e desmascara a opressão no plano
filosófico.
A
filosofia ensina que o abuso de poder e o desrespeito ao cidadão não são
exclusividade das ditaduras militares ou dos regimes formalmente “fascistas”.
Longe disso: as piores formas de dominação autoritária começam na mente e
avançam através da propaganda, de maneira em grande parte subconsciente. Alimentam-se
da ignorância espiritual. Estão presentes em grau maior ou menor em igrejas,
seitas e organizações esotéricas.
No
plano religioso formam-se padrões psicológicos de submissão cega e de renúncia
ao pensamento que são usados depois com frequência no plano político e social.
No
movimento teosófico, por exemplo, Jiddu Krishnamurti despreza o pensamento,
como se o raciocínio não pudesse estar ligado à alma imortal.[1] O ritualismo pseudoesotérico fabricado
por Annie Besant na primeira parte do século vinte acostuma os ingênuos a uma obediência
cega “em nome dos Mestres”. [2]
Em
qualquer aspecto da atividade humana, quando surge um ataque sistemático à
razão, o processo de lavagem cerebral chama a si mesmo de “conscientização”.
Os
lavadores de cabeças apresentam fatos imaginários com tamanha ênfase - e
tamanha repetição - que o maior absurdo passa a parecer um fato óbvio e
inegável. Para eles, não é preciso (nem deve ser permitido) questionar ou
pensar. O objetivo é mostrar a cada um que todos devem somar-se ao Coral dos
Desinformados.
A
pseudoideologia autoritária sugere às pessoas e multidões que o mero fato de
uma pessoa discordar da sua propaganda é prova de que tal cidadão não sabe de
nada. Trata-se consequentemente de um completo idiota ou, pior, um
mal-intencionado; e, neste caso, ele merece ser objeto do ódio coletivo
sistemático.
Nomes
pessoais de “inimigos” passam assim a ser usados como símbolos daquilo que as
massas populares ingênuas devem odiar intensamente como demonstração de que
“têm consciência” e “são inteligentes”.
Pensar
é sutilmente proibido, porém todos estão livres para reproduzir de várias
formas os slogans e as palavras-de-ordem dos chefes da seita, da igreja ou da
corrente política. Quem não se soma ao coral do trivial variado é um indivíduo perigoso e não merece confiança.
Cria-se
deste modo uma situação psicológica imaginária segundo a qual, se for
contrariada a “vontade suprema” do partido da lavagem cerebral, ou se forem
tratados de acordo com a Lei os seus dirigentes que cometam crimes, “haverá um caos
social”.
O
fenômeno é febril e passageiro. Cedo ou tarde, a doença totalitária destrói a
si mesma. Porém, o seu fim pode e deve ser apressado pelos cidadãos
conscientes. O remédio para a doença histérica da pseudoideologia totalitária
chama-se Democracia; e Democracia tem entre os seus pilares a liberdade de
pensamento, a ética, a Lei, e uma paciente perseverança.
A Ilusão de
Eliminar Adversários
O
pensamento político “de esquerda” deve
reaprender a pensar em profundidade e deixar de lado velhas ilusões. A mesma
exigência essencial se aplica ao pensamento político “de direita”, de “centro”,
e às várias vertentes do movimento teosófico. Que haja lideranças definidas é
algo saudável: mas os líderes precisam responder pelo que dizem, e pelo que
fazem.
Desde
a revolução francesa de 1789, tem estado na moda a ideia de que uma mudança radical na estrutura de uma nação
e no seu governo pode garantir ao povo total felicidade, ilimitada justiça
social, ética duradoura e prosperidade. A História tem mostrado algo muito
diferente. As mudanças súbitas e forçadas criam catástrofes sociais, econômicas
e culturais que derrotam as suas boas intenções. Os exemplos começam pela
própria Revolução Francesa.
A
real mudança vem do mundo interno. É o cidadão individual que deve tornar-se
mais sábio, em primeiro lugar. Quando isso ocorre, a sociedade como um todo
cura naturalmente as suas feridas. As lutas sociais devem evitar aventuras
extremistas. Cabe a elas defender uma moderação integradora que preserve a
capacidade de pensar. Não é possível exigir perfeição, mas um lento processo de
autoaperfeiçoamento pode ser experimentado e estimulado a qualquer momento. Ensinando
a pensar com independência, a filosofia elimina a prática da repetição cega de
ideias falsas.
O Poder
Invisível da Boa Vontade
Se
queremos o bem de um país, não devemos preocupar-nos demasiado com a opinião da
maioria sobre assuntos de curto prazo. Ela é com frequência fabricada
artificialmente.
Quase
tudo que é de uma importância fundamental permanece invisível aos olhos do
desatento.
Porém,
há em cada país um certo número de pessoas com uma percepção correta da unidade
da vida e do mundo. Elas possuem esta visão por mérito próprio.
A
energia sutil produzida pelo pequeno grupo de cidadãos profundamente éticos
flui pelos diferentes setores sociais. A consciência inspiradora permeia com o
poder do exemplo o conjunto da cultura e do carma da comunidade. Quando o
número e a força da boa vontade destes Poucos
alcança uma certa quota mínima, o conjunto do carma coletivo passa a ser guiado
subconscientemente, ou supraconscientemente, pelo sentimento construtivo
de solidariedade e pela prática inteligente da ajuda mútua.
A
verdadeira revolução ocorre no plano da alma. Mais do que lutar pelo domínio artificial
desta ou daquela Opinião política, quem deseja o bem de uma comunidade deve dar
o silencioso e invisível exemplo de vida de um cidadão que possui altruísmo, busca o saber eterno e se expressa com
sinceridade.
NOTAS:
[1] Veja
em nossos websites o artigo “Krishnamurti e a Teosofia”.
[2] Leia
mais a respeito nos textos “Fabricando um Avatar” e “Besant Anuncia Que é Mahatma”.
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Uma versão inicial do artigo “O Poder Filosófico da Democracia” foi publicada sem indicação do nome de autor na edição de outubro de 2016 de “O Teosofista”, pp. 12 a 14. Título original: “O Valor Filosófico da Democracia”.
O texto está disponível como item independente nos websites associados desde janeiro de 2018. Em 2019, sua versão em inglês foi publicada em The Times of Israel: “The Philosophical Value of Democracy”.
Está também publicado em inglês nos websites da Loja Independente de Teosofistas, LIT: “The Philosophical Value of Democracy”.
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Pequenas Ações Práticas
* Reveja o texto acima escolhendo os pontos mais importantes dele. Registre em um caderno de anotações aquilo que chama atenção por ajudar você no momento atual. Comente com alguém sobre isso.
* Imprima os textos dos websites associados. Com frequência a leitura em papel permite uma compreensão mais profunda. Ao estudar um artigo impresso, o leitor pode sublinhar e fazer comentários manuscritos nas margens, ligando diretamente o ensinamento à sua realidade concreta.
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Veja em
nossos websites associados os artigos “A Guerra Mundial em Nossas Mentes”, “Quando os Pinóquios Perdem Poder” e “Rompendo a Manipulação Mental”.
Leia
ainda “Bom Senso Elimina o Sadomasoquismo”,
“Os Novos Médiuns”, “Marxismo Não Promove o Crime”, “Esquerda, Ética e Fraternidade”,
“O Poder de Sugestão” e “Autodomínio Pelo Controle do Pensamento”.
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Em 14 de setembro de 2016, depois
de uma análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu criar a Loja
Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um
futuro saudável.
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