Como Enfrentar e Vencer
os Riscos da Poluição Mental
Helena P.
Blavatsky
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Nota
Editorial de 2019:
O assunto do texto que traduzo a seguir
se relaciona com o que a psiquiatria e a
psicanálise chamam de histeria e desordem
bipolar. Há outros artigos em que
Blavatsky
aborda obstáculos psicológicos do eu
inferior.
“Um Caso de Obsessão” foi publicado pela
primeira vez na Índia nas páginas
207-208 da
quando a publicação era editada por
Blavatsky.
O texto em inglês também está disponível
como
artigo independente nos websites associados.
Para tornar mais fácil uma leitura
contemplativa,
os parágrafos longos foram divididos em
parágrafos
menores. Acrescento algumas notas de
rodapé.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Os detalhes
do caso de obsessão mencionado na edição de abril [de 1880] desta revista são
indicados na carta a seguir, de um respeitável médico inglês que está tratando
da vítima:
“Tomo a liberdade de dirigir-me a você por
razões humanitárias, com a intenção de estimular a sua simpatia e obter toda a
ajuda que puder prestar, no caso de um ‘espírito’. Você verá que o cavalheiro
está sendo usado como médium contra a sua vontade, desde que assistiu a algumas
sessões para observar ‘fenômenos espíritas’.”
“Desde que ele começou a estar
mais ou menos sujeito a uma série de perseguições por parte do ‘espírito’, e
apesar de todos os esforços feitos para afastar-se desta influência, ele tem
sido obrigado a sofrer de muitas maneiras, passando por muita vergonha e
sofrimento, nas circunstâncias mais difíceis e desafiadoras, especialmente pelo
fato de seus pensamentos serem forçados por canais proibidos, sem que haja
causas externas para isso - com suas funções corporais sendo anuladas, e sendo
levado até mesmo a morder gravemente sua língua e suas bochechas ao comer,
etc., e sendo submetido a toda espécie de pequenas perturbações que servem como
meios para o ‘espírito’ (desconhecido) manter e estabelecer a conexão. Os
detalhes, nos seus aspectos mais dolorosos, são algo que não posso descrever a
você; mas se houver quaisquer meios pelos quais esta influência possa ser
afastada e for necessário ser mais específico na minha descrição deste caso,
mandarei a você todas as informações que tenho.”
É
tão pouco conhecida na Índia a fase mais recente e mais estranha dos fenômenos
mediúnicos do ocidente - a “materialização” - que são necessárias algumas
palavras de explicação para que este caso seja compreendido. Em poucas palavras,
há vários anos, na presença de alguns médiuns na Europa e na América do Norte,
tem havido, com frequência em condições favoráveis para que sejam feitos testes
isentos, aparições de pessoas mortas, que em todos os casos parecem seres
humanos vivos. Tais pessoas caminham para lá e para cá, escrevem mensagens a
amigos presentes e ausentes, falam de modo audível em linguagens que eram
familiares para eles durante a vida, embora o médium possa desconhecê-los, e
aparecem vestidos do modo como vestiam quando estavam vivos.
Foram
detectados muitos casos de imitação fraudulenta dos mortos. Falsos médiuns
continuaram enganando os crédulos durante anos, em alguns casos, e médiuns
reais, cujos poderes psíquicos tinham sido aparentemente comprovados
eliminando-se toda dúvida, foram surpreendidos fazendo truques em algum momento
infeliz, quando cederam ao desejo de dinheiro, ou à busca de notoriedade. Ainda
assim, levando em conta todos estes casos, há um resíduo de casos verdadeiros
de materialização, ou de aparição visível, tangível, e audível de imagens de
pessoas mortas.
Estes
fenômenos extraordinários têm sido encarados de várias maneiras pelos
pesquisadores. A maior parte dos espíritas os têm visto como provas
extremamente valiosas da sobrevivência da alma após a morte; enquanto os
teosofistas, que conhecem as práticas dos antigos teurgistas, assim como os
seguidores da filosofia indiana, ainda mais antiga, consideram estes fenômenos
na melhor das hipóteses como enganadoras ilusões dos sentidos, cheias de
perigos físicos e morais tanto para o médium como para o espectador - se o
espectador for por acaso suscetível a certas influências psíquicas.
Estes
estudantes de Ocultismo notaram que os médiuns das materializações com
frequência têm a sua saúde arruinada pela drenagem dos seus sistemas vitais, e são
destruídos no plano moral. Eles alertaram repetidamente o público espírita,
afirmando que a mediunidade é um dom extremamente perigoso e uma prática que só
pode ser tolerada com grandes precauções. E por isso sofreram muitos abusos e
escassos agradecimentos. Ainda assim, o dever moral de cada um deve ser
cumprido em quaisquer circunstâncias, e o caso que agora examinamos traz uma oportunidade
valiosa para mais um conselho amigo.
Não
é necessário discutir se as chamadas formas materializadas, descritas acima, são
ou não as formas dos mortos a quem se assemelham. A questão pode ser deixada de
lado até que os fatos básicos da ciência psíquica oriental sejam melhor
conhecidos. Tampouco vale a pena discutir sobre se alguma vez aconteceu uma
materialização autêntica. As experiências feitas em Londres pelo sr. William
Crookes, F.R.S. [1] e na América do
Norte pelo coronel Olcott, nos dois casos muito conhecidas e de uma natureza extremamente
autêntica, nos dão uma base suficiente de fatos a partir da qual podemos
argumentar. Consideramos que são reais as materializações, e tomaremos o
exemplo citado pelo médico inglês como assunto para um diagnóstico.
A
descrição afirma que o paciente tem sido “tomado” desde que fez parte de
“círculos” em que houve materializações, e tem sido dominado por algumas forças
malignas que o forçam a dizer e fazer coisas dolorosas e mesmo desagradáveis,
apesar da sua resistência. Por que ocorre isso? Como pode um homem ser levado a
agir contra a sua vontade? O que é a Obsessão?
Estas
são três perguntas breves, mas é extremamente difícil explicá-las para um
público não-iniciado.
As
leis da Obsessão só podem ser bem compreendidas por quem já sondou as
profundezas da filosofia indiana. A única pista para o segredo que o ocidente tem
a seu alcance está na ciência - claramente benéfica - do magnetismo ou
mesmerismo. Esta ciência afirma que existe um fluido vital dentro do ser humano
e em torno dele; aborda o fato das diferentes polaridades humanas e a
possibilidade de uma pessoa projetar este fluido ou força por vontade própria,
para, e sobre, outra pessoa polarizada de modo diferente. A teoria do barão de Reichenbach
sobre a força odílica ou ódica mostra a existência do mesmo fluido no reino
mineral e no reino vegetal, assim como no reino animal.
Completando
a série de evidências, a descoberta por Buchanan da função psicométrica no ser
humano nos possibilita provar, com a ajuda da psicometria, que uma influência
sutil é exercida pelas pessoas sobre as casas e mesmo sobre as localidades em
que vivem, sobre o papel em que escrevem, as roupas que usam, a porção do Éter
Universal (o Akasha indiano) em que existem,
e esta é uma influência permanente, perceptível até mesmo nas épocas mais
distantes, quando os indivíduos já a viviam e exerciam. [2] Em uma palavra, podemos afirmar que as descobertas da ciência
ocidental corroboram de modo completo as sugestões lançadas pelos sábios gregos
e as teorias mais definidas de certos filósofos indianos.
Tanto
os indianos como os budistas acreditam que o pensamento e as ações são
igualmente materiais, que sobrevivem, que os desejos bons e maus de um ser
humano o rodeiam em um mundo produzido por ele próprio, que estes desejos e
pensamentos assumem formas que se tornam reais para ele após a morte, e que Moksha, num caso, e Nirvana, no outro, não podem ser obtidos até que a alma
desencarnada passe através deste mundo-assombrado de pensamentos fantasmagóricos
e esteja livre deste último vestígio da prisão terrestre.
O
progresso das descobertas ocidentais nesta direção tem sido e deve ser sempre
gradual. Desde os fenômenos da matéria grosseira até os da matéria mais
sublimada, e avançando pelos mistérios do espírito, o caminho difícil é
necessário de acordo com os preceitos de Aristóteles. A ciência ocidental
descobriu primeiro que o ar que expulsamos dos pulmões está carregado de gás
carbônico e, quando em excesso, é fatal para a vida humana; depois, percebeu
que algumas doenças perigosas eram transmitidas de pessoa a pessoa nos
espórulos lançados ao ar pelo corpo doente; mais tarde, descobriu que o homem
projeta sobre todos e tudo que ele encontra uma aura magnética que lhe é peculiar; e finalmente, é postulada
atualmente a perturbação física causada no Éter pelo processo de produção e
emissão do pensamento. Outro passo adiante será perceber o poder criativo
mágico da mente humana, e o fato de que a doença moral é tão transmissível quanto
a doença física.
A
“influência” das más companhias será então vista como algo que implica um
magnetismo pessoal degradante, mais sutil que as impressões transmitidas ao
olho ou ao ouvido pela visão e pelos sons de uma companhia imoral. Estas
últimas podem ser repelidas evitando resolutamente ver ou ouvir o que é mau;
mas o magnetismo degradante mais sutil envolve o indivíduo sensitivo e permeia
o seu próprio ser, bastando para isso que ele pare onde o veneno moral está
flutuando no ar. As obras “Animal Magnetism”, de Gregory, “Researches”, de
Reichenbach, e “The Soul of Things”, deixarão isso claro em grande parte para o
pesquisador ocidental, embora nenhum destes autores estabeleça a conexão entre
o seu campo favorito de conhecimento e a fonte original, a Psicologia Indiana.
Mantendo diante de nós o caso presente, vemos um homem altamente suscetível a impressões magnéticas, que nada sabe sobre o processo das “materializações” e, portanto, incapaz de proteger a si mesmo contra más influências, colocado em contato com círculos promíscuos onde o médium impressionável tem sido o núcleo involuntário de maus magnetismos, tendo o seu sistema vital saturado com as emanações vivas dos pensamentos e desejos daqueles que estão vivos e daqueles que estão mortos.
O
leitor é convidado a ler um texto interessante do juiz Gadgil, de Baroda (veja
o nosso número de dezembro) [3] intitulado
“Ideias Hindus sobre Comunhão com os Mortos” (“Hindu Ideas about Communion with
the Dead”), onde encontrará uma exposição sobre este tema das almas presas à
terra, ou Pisachas. “Considera-se”,
diz aquele autor, “que nesta situação, estando a alma privada dos meios de
obter prazeres [sensuais] através do seu próprio corpo, fica sendo
perpetuamente atormentada pela fome, pelo apetite e outros desejos corporais [4], e só pode obter prazer
vicariamente, ingressando no corpo físico vivo de outros, ou absorvendo as
essências mais sutis de ofertas e oferendas feitas para eles próprios.”
Que
surpresa pode haver, para nós, no fato de que um homem negativamente
polarizado, um homem de temperamento suscetível, se for subitamente colocado na
corrente de más emanações de alguma pessoa viciosa - talvez ainda viva ou quem
sabe já morta -, absorve o veneno insidioso tão rapidamente quanto a cal absorve
umidade, até ficar saturado com o veneno? Do mesmo modo um corpo suscetível
absorverá o vírus da varíola ou da cólera, ou do tifo; e basta que lembremos
disso para compreendermos a analogia estabelecida pela Ciência Oculta.
Perto
da superfície da Terra paira sobre nós - para usar uma imagem simbólica
conveniente - uma neblina moral vaporosa, composta pelas exalações dos vícios e
das paixões dos seres humanos. Esta névoa invade o sensitivo até o centro da
sua alma. O ser psíquico do sensitivo a absorve da mesma maneira que uma
esponja acolhe água ou leite. A neblina anula o sentido moral do sensitivo,
estimula e coloca em atividade os seus instintos mais inferiores, derrotando as
suas decisões bem-intencionadas. Assim como os vapores de um depósito de vinhos
fazem o cérebro girar, e do mesmo modo como a atmosfera em uma mina subterrânea
dificulta a respiração, assim também esta nuvem pesada de influências imorais
leva o sensitivo para longe dos limites do autocontrole, e ele se torna
“obcecado”, como o paciente inglês.
Que
remédio pode ser sugerido? O próprio diagnóstico deixa a questão clara. O
sensitivo deve ter a sua sensitividade destruída; a polaridade negativa deve
ser mudada para a polaridade positiva; ele deve se tornar ativo ao invés de
passivo. Ele pode ser ajudado por um magnetizador que conheça a natureza da
obsessão, e que seja moralmente puro e fisicamente saudável; este deve ser um
magnetizador dotado de poder, um homem com uma força de vontade dominante. Mas
a luta pela liberdade, afinal de contas, terá que ser travada pelo próprio
paciente. A sua força de vontade terá de ser despertada. Ele deve expulsar o
veneno do seu sistema vital. Centímetro por centímetro, é preciso recuperar o
terreno perdido. Ele tem de compreender que esta é uma questão de vida ou
morte, de salvação ou ruína, e deve lutar pela vitória como alguém que faz um
último esforço, heroicamente, para salvar sua própria vida.
Sua
dieta deve ser o mais simples possível. Não deve comer alimentos de origem
animal, nem tocar qualquer estimulante, nem colocar-se em qualquer situação em
que haja a menor chance de que sejam provocados pensamentos impuros. Deve
evitar ficar sozinho, tanto quanto possível, mas seus companheiros devem ser
cuidadosamente escolhidos. Deve fazer exercício e ficar muito tempo ao ar
livre; e usar lenha, ao invés de carvão. Qualquer indício de que a má
influência ainda está agindo dentro dele deve ser vista como um desafio para
que controle os seus pensamentos e os leve a girar em torno de coisas puras,
elevadas, espirituais, em qualquer momento de perigo e com a determinação de
passar por qualquer sofrimento, mas não ceder.
Se
este homem puder adotar este estado de espírito, e o seu médico puder obter a
ajuda benéfica de um magnetizador forte, saudável, de caráter puro, ele pode
ser salvo. Um caso quase exatamente igual a este, com a única diferença de que
se tratava de uma dama, chamou nossa atenção nos Estados Unidos; o mesmo
conselho foi dado e colocado em prática, e o “demônio” da obsessão foi expulso
e tem ficado longe desde então.
NOTAS:
[1] F.R.S. - membro
da Royal Society, de Londres. (CCA)
[2] O livro “Manual
of Psychometry”, de Joseph R. Buchanan, está disponível nos websites associados. (CCA)
[4] O “fogo do inferno”.
(CCA)
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O
artigo
acima foi publicado nos websites associados dia 18 de novembro de 2019.
Veja os textos “A Política da Histeria”, “A Pressão Atmosférica da Alma”,
“O Que é a Aura Humana” e “A Arte de Navegar”.
Clique e veja
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